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“Acho que um capítulo à parte em seu comportamento de homem multimidiático é o desempenho peculiar na rede mundial de computadores. Gestalt? Popcreto? Site Specific? O que pode nos dizer a respeito?”

 

“Imprimaduras. Há infinitas intersecções da minha parte – além das de colaços, encomiadores... – pelos labirintos internáuticos; é um fato. Exaustivas, ostensivas... Quem se propuser a realizar tal arquiarqueologia, se deparará com uma art brüt, aerógrafa odisséia, cinemáquina infernal. 

Admirável Earthwork Novo...

O que pretendo ressaltar ineditamente é que, em universo cibernético, exerço um ato de criação transliterária deliberado, pochade, esfregaço plurinterventivo, espacialismo encáustico. Sou/Ser um artista que descreve um artista a se descrever. Ou melhor, destacando tônus presentificado, posso estar-sendo. Nunca saberei ao certo, camera obscura/camera lucida, cercle et carré. Diariar-me-ei!

{Um aparte. Do tema “Diário”. Convido-o(s) a visitar Enrique Vila-Matas em seu “Dicionário do tímido amor à vida” (segundo capítulo d’O mal de Montano, livro a mim enfadonho todavia sutilmente proveitoso). Ao longo de suas páginas, adoráveis diaristas como Robert Walser, Henry Frédéric Amiel, Witold Gombrowicz e Jules Renard.

Vai daí que 20 apontamentos alvejo, mirando minha diarquia e os desdobramentos lítero-...-melgacianos pelas arquiteturas-de-rede, browsers adentro:

1- Devo crer na utopia da literatura porque ela nos oferece uma linguagem alternativa à tirania das linguagens da política, do trabalho e da família, além de nos revelar que a maneira como existe a realidade hoje não tem por que ser a única possível;

2- Algo parecido é o que estou fazendo aqui, neste di(cion)ário, onde ressoa fortissimo um dos grandes temas do existencialismo: a criação de si mesmo;

3- “Ser escritor é converter-se num estranho, num estrangeiro: é preciso começar a traduzir-se a si mesmo. Escrever é um caso de impersonation, de suplantação da personalidade. Escrever é fazer-se passar por outro.” (Justo Navarro)

4- Ler o mundo como se fosse a continuação de um interminável texto;

5- Em nosso tempo a única obra realmente dotada de sentido – de sentido crítico também – deveria ser, segundo Walter Benjamin, (uma passagem por?) uma colagem de citações, fragmentos, ecos de outras obras;

6- “O estilo, essa facilidade para instalar-se e instalar o mundo, é isso o homem? Essa suspeita aquisição pela qual se elogia o regozijado escritor? Tenta sair. Veja suficientemente longe dentro de você para que seu estilo não o possa seguir.” (Michaux)

7- Nas páginas do diário de Pavese, O Ofício de Viver, Ítalo Calvino afirmara ter encontrado o termo oposto do desespero e da derrota: uma paciente, tenaz tarefa de autoconstrução, de claridade interior, de melhoramento moral que se deve alcançar por meio do trabalho e da reflexão sobre as razões íntimas da arte e da vida própria e alheia...;

8- À la Pessoa, viver o desassossego da autopsicografia;

9- Não há casualidades, mas em alguma parte sim há uma relação que de quando em quando, parafraseando Sebald, cintila através de um tecido esgarçado;

10- Proust lamentava que determinadas pessoas, algumas inclusive muito doutas, desconhecendo a composição rigorosa, embora velada, de No Caminho de Swann, acreditaram que o romance (Em Busca do Tempo Perdido) era uma espécie de livro de lembranças, entrelaçadas segundo as leis fortuitas da associação de idéias.“Como apoio a esta mentira citaram páginas nas quais umas migalhas de madeleine molhadas numa infusão me fazem recordar toda uma época de minha vida. Ora, para passar de um plano a outro me vali simplesmente não de um fato, mas do mais puro e valioso que achei como ligação, um fenômeno de memória.”

11- “Escrever é como se drogar, começa-se por puro prazer, e acaba-se organizando a vida como os drogados, em torno do vício. E esta é minha vida. Até quando sofro, o vivo como um desdobramento: o homem está sofrendo, e o escritor está pensando em como aproveitar este sofrimento para seu trabalho.” (Lobo Antunes)

12- Macbethiano, grande perturbação da natureza é essa em que se goza dos benefícios do sonho sem perder os efeitos da vigília;

13- “A mais profunda associação do homem com seus semelhantes é a dissociação. Todo nosso ser não é senão um delírio de muitos.” (Musil)

14- Em lôas a Monsieur Teste de Valéry: É o que trago em mim de desconhecido que me faz eu...;

15- Sim, escrituramo-nos/diarizamo-nos menos para conhecer quem somos do que para acompanhar o desenho de nossa metamorfose contínua;

16- “Estamos escavando no fosso de Babel.” (Kafka)

17- Corpus Hypercubicus;

(18- Todas as 20 enumerações mandamentosas são aqui dedicadas a Jorge Luis Borges);

19- Introibo ad altare Dei;

20- Se Bataille dissera que escrevia para não ficar louco, prefiro dizer que enlouqueço quando escrevo!}

Otacílio Melgaço, se em internet vislumbrado, sorvido, descorçado: uma Personagem, decerto? Não & Sim.

Não pois se há não há um alter ego falacioso meu aqui, ex-voto suscepto. Nonada de ficcional, bestiário, fauve. Entrevistas, resenhas, fragmentações, cubistas perfis...: tudo se volta a um, multifacetado todavia, veridicista uninequívoco Portrait do Artista;

Sim, já que, dando um passo adiante, passo a considerar as verazes e heráldicas peças do quebra-cabeça melgaciano: páginas de um Diário infindável, não-imaginário, hachurante, ...macchiaioli. Se devidamente (devida mente?) lidas, realinhadas, concatenadas, sequenciadas: farão com que o internauta, em sensível geometria, (re)construa seu Construtor! Circunstância que propulsiona Otacílio Melgaço à condição de Personagem. Persona que engendra e simultaneamente protagoniza tal Obra em que são registradas sui generis confissões, impressões, proles, nabis hierartigos...  

E mais: a meu ver, para cada processo de (re)constituição, uma particularizada figura dramática é dada à luz, à mandorla. Vários Melgaços perpassam incontáveis diários possíveis, chegando ao cúmulo órfico de darem vazão a ser remontados até mesmo por uma mesma persona, perdão, pessoa!

{Frase supostamente atribuída a Jean Cocteau: "Fabrique um duplo de si mesmo que ajude a afirmá-lo e possa inclusive substituí-lo, que ocupe a cena e o deixe tranquilo para trabalhar longe do ruído." Ou, no meu caso 'musicista', perto dele contudo dos ruídos O desideriado. Rayuela? Seria assim o espíritu desse contemporâneo jogo da amarelinha cortazarado?}

Para caleidoscópica epopéia: maruflagens, madeiras-de-fio... Reivindico-me valer (sins!, devo fazer parte de uma décadente et intermittente génération perdue) de parâmetros, se assim  posso me referir acintosa e ironicamente: antiquados...  Dentre eles: Assemblage, Body Art, Citacionismo, Colagem, Fotomontagem, Happening, Intervenção, Instalação, Móbiles, Performance, Ready-Made.  

A proposição que a mim mesmo estipulei se apilastra e alastra em transmutação dos citados (e de outros inconfessáveis) extensos tentáculos do coito artístico...em vertente cabível à rede mundial de computadores! Um emaranhado de expressões sonoras, literárias, pictóricas e o que mais puder se fazer téchnembrião-kybernetiké fasciculando cada lauda (virtual?) do(s) diário(s) de Otacílio(s) Melgaço(s). Home-sweet-homepages...

Croquiando:

D'Assemblage; caráter incorporante e acumulativo de todos os fomentos cabíveis e/ou aleatórios...que enxerto em meus e-sítios ETC; 

Da Body Art; o assumimento conceitual de que há um táctil Corpus, emuladoira Corporeidade apta, como suprematista Suporte experienciável, a desde medular, ossaturar, encarnar a Persona melgaciana até torná-la, ritualística, tela viva, palimpsesta pelagem/pelaria/courama a tatuagens mecatrônicas e demais píncaras intervenções ETC; 

Do Citacionismo; ultradiálogo com a história da arte, da filosofia, antropologia, mitologia...em intensa interpenetração eclipsante, locomovente para com seus atores, corpo de baile ETC; 

Da Colagem; pré-assemblágica; libertação do jogo das superfícies e supercialidades que podem levar abordagens digitais a uma ditadura-do-rasteiro, ligeiro, do informacional pouco impregnante em detrimento de uma (por mim ambicionada) insólita prospecção sem fundura (começo ou fim). Demolição de resquícios d'fronteiras transmidiáticas em favor de mutantes dimensionamentos pluricomunicacionais ETC; 

Da Fotomontagem; a fragmentação liquidificada em inédita somatória, composturação parassilogística ETC;

Do Happening; o convite ao espectador (aqui, ex-pectador) a ser não somente assistidor porém coadjuvante, não somente coadjuvante mas co-protagonista da enredura e enredo (dos) diários ETC;

Da Intervenção; reestruturação, requalificação e reabilitação funcional e simbólica das edificações da/na ciberespacialidade. Sobre uma realidade preexistente, que possui características e configurações específicas, objetivar o retomar, alterar ou acrescentar novos usos, funções e propriedades e promover desafiante apropriação por parte dos internavegantes (corsários?) de tais nichos informáticos ETC; 

Da Instalação; deslimitação do wwwambiente; lançar a obra artística no espaço da rede computadorística, com o auxílio de materiais (multiconstitutivos, ultraintestinais) variados, na tentativa de construir searas e cenas, cujos movimentos apreendedores/apreensivos estão dados pela relação entre plasticidades, construções, os pontos de vista e o corpo do observador (co-protagonista, vale lembrar). Para a apreensão da Persona é preciso percorrê-la, passar entre suas dobras e aberturas, ou simplesmente caminhar pelas veredas e trilhas que ela constrói por meio da disposição das peças, cores, objetos, textos, fragmentos sonoros ETC; 

Dos Móbiles; a noção é empregada para nomear um sentido de esculturalidade e-sitiante, abstrato ou não, composto de materiais leves, suspensos metaforicamente no tecnocosmo por meio de fios...de-Ariadne. As piece-pages, movimentadas pelo ar, limbo virtual, podem se caracterizar tanto pelo equilíbrio, leveza e harmonia quanto por seus antípodas ETC;

Da Performance; aqui, em contraponto improvisativo e conjuminável ao Happening digital: o centripetismo de - assim alcunharei - black holes (supermassivos? rotatórios?) a que somente à Persona melgaciana devem pertencer/sugar: declarando espasmos de enigmática solitude. Hiatos de uma fornada privacidade inerentes ao ethos artístico, catapultando intermitentemente o internauta a comas observatórios a fim de reflexões resfolegantes e renorteamentos íntimos (já citada rayuela) ETC; 

Do Ready-Made, colaço citacionista. Da apropriação de um ou mais artigos (fisicizados ou metafisicizados) de convívio e de uso cotidiano, produzidos - ou coletivamente (in)conscientizáveis - em massa, selecionados com ou sem critérios puramente estéticos, epistemológicos...e expostos como partes das obras do artista em sua extensão ciberenredeada  

E

T

C.

Paralém de minha referencialidade acima trazida a lume, uma recapitulação-mor, quadraturística, poderá nos ser útil, se, pacificamente, me permite. Sugiro que os leitores, à medida que transcorrerem os olhos pelo alfabetário (wormhole) que aqui acionarão, façam por própria conta e excitamento e ânsia d'abissalidade: os prolongamentos da adaptação presumível, decodificação de não árdua arquitextura:

i do que é convencionalmente dicionarizado

em

ii meu r-a-i-o-n-i-s-m-o, intento previamente revelado neste res-postar.

Epilogo-me. Minhas alucinações internéticas são resinas d’Amar... Reentelações!

Laudas virtù-diárias: 

melgacianos parangolés!

Reassunto Oiticica! Parangolé: "totalidade-obra", fusão de cores, estruturas, danças, palavras, fotografias e músicas. Estandartes, bandeiras, tendas e capas de vestir prendem-se nessas obras, elaboradas por camadas de panos coloridos, que se põem em ação na dança, fundamental para a verdadeira realização da obra: só pelo movimento é que suas estruturas se revelam.  Posterior aos Bólides - recipientes com pigmento para serem manuseados -, os Parangolés ampliam a participação do público na medida em que sua ação não está mais restrita ao manuseio. Eles pressupõem a transformação na concepção do artista, que deixa de ser o criador de objetos para a contemplação passiva e passa a ser um incentivador da criação pelo público. Ao mesmo tempo que pressupõe uma transformação no espectador, dado que a obra só acontece com sua participação. Trata-se de deslocar a arte do âmbito intelectual e racional para a esfera da criação, da participação. O Parangolé expressa inconformismo - alguns levam frases como "ESTOU POSSUÍDO" ou "INCORPORO A REVOLTA" - e é um "estandarte da anti-lamúria", revelando a cumplicidade do artista com os que vivem à margem da sociedade. Ó scannerrante tachista! Ode ao heróico pois o.m.arginal! O Marginartista?

Sensitometrifico-me.

Suprematizar sincromismo! Papel-salgado, talho-doce!

Trompe l'oeil, têmpera, tondo, transvanguardadouro: Tropicaliterações!: universalismo desconstrutivo!!

Anti-ValoriPlastici, velaturas, viragens, vórtices: Zoom!!!

Zoo-O.M.!

Bahaba

dalgh

aragha

takam

minar

ronnko

nnton

nerron

ntuon

nthunn

trova

rrhou.!.

bildu

ngsrom

anent

bildungs

ro-man:

 

 

De Entrevista concedida a Pablo Suarez Paz

em Outono de 2000 &tc - via WWW,

 

Fragmento dedicado a Hélio Oiticica,

Arnaldo Baptista e Arlindo Daibert

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