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Fragmento de recente entrevista dada por Otacílio Melgaço 

a seu colaço DJ - Nico A.

 

"O humor é a vitória do ego

sobre o princípio da realidade." (S.F.)

 

 "Mal e mal possuímos os rudimentos de uma teoria da tradução, de um modelo de como funciona a mente quando passa de uma língua a outra. Ao falar da tentativa de tradução ao Inglês de um conceito filosófico chinês, o lingüista I. A. Richards fez a seguinte observação: é possível que aqui estejamos em presença do tipo mais complexo de evento até agora ocorrido na história do universo." (G.S.)

 

N.A. - "Relendo a tradução que Paulo Leminski fez de dois livros 'joyceanos' do ainda beatle Lennon, me fale um pouco sobre a sua relação iconoclástica (ou, como você trata, 'iconoplástica') com a língua Portuguesa, se preferir, Brasileira... Nem todos se colocam receptivos, quero dizer, preparados para suas rosianidades ou sim?" 

 

O.M. - "Anamnese!

Lewis Carroll & Portmanteau. De uma tradicional valise de couro, com dois compartimentos, com que somos presenteados (presentificados?) pelo wonderlander Charles Lutwidge Dodgson, nos apercebemos portando - portentosos - a nécessaire palavra-valise; palavra-double-face; palavra-porta-palavra.

Rebatizados: Jabberwocky ouGaberbocchus ouDerJammerwoch ouLe Jaseroque ouJaguadarte ouMurmurilho ouBalbulonge ouUrrofruto ouTragarelva!?

Alice especular e maravilhosa Alice enfrenta o Monstro da Língua (que faltou em Manual de Zoologia Fantástica de Borges). Já, portanto, metamorfoseados: enfrenta-nos!

Orienta-nos! Em Japonês, há o efeito chamado Kakekotoba ('palavra pendurada'). Não é um trocadilho, é mais a passagem de uma palavra por dentro da outra, nela deixando seu perfume. Lembrança. Saudade... Na expressão shiranámi, ‘brancas nuvens’, uma mente nipônica pode captar a alusão a shiránu – 'desconhecido' -, ou a namida – 'lágrimas' -: numa mesma leitura. Kakekotoba (em sua dupla ou tripla leitura) é um processo ‘natural’ da língua japonesa. Portmanteau é um artefato, produto do fazer humano.

Apendicioso, do espírito jocoso e infantil de Carroll, legamos as Nursery Rhymes (poemas ou histórias metrificadas para crianças) e também o Limerick (com semântica em grau nonsense, double-entendre, pequeno poema humorístico).

Finalmente, referenciando e referendando sua dúvida: John Lennon: On His Own Write (in his own right – no seu direito -, in his own writting – com seu próprio punho). Por Leminski: Lennon Com Sua Própria Letra; A Spaniard In The Works (Um Espanhol Nas Obras, A Spanner In The Works – uma chave-de-fenda nos mecanismos, dificuldade súbita, obstáculo que não estava nos planos. Do Francês: Sabotage, de Sabot, tamanco – jogar um tamanco para danificar o mecanismo de uma máquina). Por Leminski (proposta de Alice Ruiz): Um Atrapalho No Trabalho.

Se Lennon, (he's the) WallRoots; Leminski, em quem penso com fraternura: Catatau haikaísta - por várias conotações, se bem paradoxo eu. Agora: Estrela.

Pós-Portáctil-Prólogo, o que substancio em brasileirês, caro Nascimento, - apesar dos flertes libidinosos com Carroll, Joyce, Dalí, Murilo, os Noigandres et cætera - se epicentra transsempiternamente em messer João Guimarães Rosa.

Aliás, de um dos seus pupilos, o manoelino, demando certos séptuplos mandamentos-em-aporia:

i Do lugar-língua onde estou já fui embora;

ii Não preciso, sintático, do fim para chegar;

iii De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo (semântico) de coisa esquecida na terra — como um lápis numa península;

iV Com pedaços de mim eu prefixo, monto um ser atônito;

V Tudo que não invento é, pois, sufixamente falso;

Vi Por gramático pudor sou impuro;

Vii O artista é um erro da natureza. Sejamos um erro perfeito!

Assim, eu errático, brasilisco monstro-mênstruo, demonstro, em alto grivo, meu-minha linguajarte... No mais, ao demais: escreveu-não-leu: zebedeu!"

 

"Alice não pôde evitar um sorriso, ao dizer:

-Sabes, eu também pensava que os Unicórnios eram monstros fabulosos!

Nunca tinha visto um vivo!

-Bem, agora já nos vimos um ao outro – constatou o Unicórnio. – Se acreditares em mim, eu acredito em ti." (L.C.)

"Perecíveis, sentimentais, eu mesmo perecível,
Tudo o que se arrisca a perder,

dá-lo a ti, vais perdê-lo.
Não me assemelharei sempre ao mundo.
Fui o mundo, eu também.
Semelhante, até a ilusão.
Não dissipo a sombra do esquecimento,

eu tento brilhar-me
de luz fora da memória, contrabando indiscernível da lembrança pura.
Entra, assiste à minha infância interior, no segundo lado do tempo." (J.R.)

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