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S é r i e 

N E O u r o p r e t a n a

o u

D o  Ú t e r o

q u e E n c e r r a

Á u r e a  E r a

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Nessa exposição, viso adivinhar nos planos da consciência dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos - simulacro ao barroco ouropretano -,
mundo de planetas em fogo

vertigem
(des)equilíbrio de forças
matéria em convulsão ardendo para se definir.
[Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades,
o mundo ainda é pequeno para te diluviar.
Abala as colunas aleijadas da realidade,
badala a sinuosidade dos ritmos se adormecidos e assim
um dia, morte-e-vida devolverão meu corpo - corpo que será o mais puro Aurum!"

(O t a c í l i o   M e l g a ç o)

 

P R Ó L O G O 

 

Fatigados caminhos refazemos
Da outrora máquina da mineração.
Máquina infernal que
É nossa própria forma, o frio molde
Que maduros tentamos atingir.

[Erráticos refazemos a metástase desalquímica do cobre...]

 

D O   Ú T E R O   Q U E   E N C E R R A

Á U R E A   E R A

O U

N E O U R O P R E T A N A

[ V I A   S A C R A   E M  

9   E S T A Ç Õ E S ]

 

Desdobram-se as montanhas de Ouro Preto
Na perfurada luz, em plano austero.
Montes contempladores, circunscritos,
Entre roxo e alvo, o olhar domado
Recolhe vosso espectro permanente.
Por igual pascentais a luz difusa
Que se reajusta ao corpo das igrejas,
E volve o pensamento à descoberta
De uma luta antiqüíssima com o caos,
De uma reinvenção dos elementos
Pela força de um culto ora perdido,
Relíquias de dureza e de doutrina,
Rude apetite dessa cousa eterna
Retida na estrutura crucifixa de Ouro Preto

 

Trago-te o canto poroso,
O lamento consciente
Da palavra à palavra
Que fundaste com rigor.
O lamento substantivo
Sem ponto de exclamação:
Diverso do rito antigo
Une a aridez ao fervor,
Recordando que soubeste
Defrontar a morte seca
Vinda no gume certeiro
Da pedra silenciosa
Fazendo irromper o inespacial jacto
da cor do mito
Criado com a força humana
Em que sonho e realidade
Ajustam seu contraponto

 

Silêncio espreitante, feroz,
Silêncio de metal agindo,
Aguda obstinação
Em situar o concreto,
Em abrir e fechar o espaço

[Ó, Sectio Aurea!]

 

[Ente magnético]

Tempo; ó diabólica, sêxtupla Escolopendra!

Depois de fixar os contornos dos corpos
transpõe a região que nasceu sob o signo do ouro
e reúne num abraço as partes desconhecidas do mundo.

(Ele, picaresco Bardo, pensa desligado do Tempo,
as formas futuras dormem nos seus olhos.
Visão instantânea das coisas, ó vertigem!
penetra o sentido das idéias, das cores, a tonalidade da Criação,
olho do mundo,
zona livre de corrupção, música que não pára nunca,
forma e transparência)

 

Ninguém, depois da iniciação, dura
No teu centro de luzes contrárias,
venezianas luzes.
Sob o signo trágico vivemos,
Mesmo quando na alegria
O pão e o vinho se levantam.
Ó intolerável beleza
Que sem a morte se oculta

 

[Da Obra em Negro]

Negrume dourado, aleijado auru.
Pedra já se humanizando,
Deriva de um solo sáfaro
Que não junta, antes retira,
(Desacontece, desquer?)
Funda o estilo à sua imagem:
Na tábua seca do minério
Nenhuma voluta inútil.
Rejeita qualquer lirismo.
Tachando o nome da rosa, a flor de feroz.
Tem desejos amarelos.
Quer amar, o sol ulula,
Leva o homem dos Gerais
Ao limite irrespirável.
Em dimensão de grandeza
Onde o conforto é vacante,
Seu olhar trágico escreve
A épica real das Minas,
Ó amelgaçada Esfinge!

 

A dupla profundidade do azul
Sonda o limite gris dos chafarizes
E descendendo até à terra, liquefeita, os transpõe.
Ao horizonte belo de minhas mãos d'alferes,
A considero ruínas de um templo grego,
A mais esfingética das geometrias

 

A música do espaço pára, a Esfinge se divide em dois pedaços.
Só tenho o lado aurífero
que me dissolve no tempo que virá; não me lembro mais quem sou

 

A música do espaço pára, a Esfinge se divide em dois pedaços.
A outra metade foge do mundo.
Metade barroca, pérola de superfície irregular,
P r e c i p í c i a

 

[Legendas: Intervenções Melgacianas

em Poemas de Murilo Mendes]

 

abaixo, algumas das Photographias de O.M. pertencentes à série neouropretana: 

 

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