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P r o logância

 

 

"Eis que um estado de espírito todo especial nos invadia naquelas noites ao largo dos Escolhos de Zinco; um humor alegre, mas um tanto hesitante, como se dentro do crânio tivéssemos, em vez do cérebro, um peixe, que flutuasse atraído pela Lua. A mulher do capitão tocava harpa;

tinha braços muito compridos, que naquela noites se mostravam

prateados como enguias e o som de sua harpa era tão doce

e agudo, tão doce e agudo que quase não o podíamos

suportar, e éramos obrigados a lançar longos

gritos, não tanto para acompanhar a música,

mas antes para proteger nossos

ouvidos.’ (Ítalo Calvino)

A  palavra ‘Música’ possui ‘Musa’  -

Deusa da Poesia - enquanto berço. Antropologia afirma que o homem vocalizou - primeiramente por reverberar a ‘querência’ de seus instintos...

- sons guturais simples, diferentes uns dos outros, de acordo com o movimento entre dilatação e contração - dos músculos de seu rosto... Intuira ou mesmo percebera, em seguida, que essas ‘sonorizações’ – dilatando-se segundo necessidades físicas (mentais, ‘cordiais’, anímicas...) em reverberação ao dito grau de civilização –  não eram suficientes para, por exemplo, expressar seus sentimentos, idéias etc.

Começou, então, a modelá-las com sua língua, dentes e lábios, e assim foram formadas as sílabas e as palavras... Cronológico 'construtivismo' que nos teletransporta às raias do Homem contemporâneo. ‘A música é o único domínio no qual o homem realiza o presente’ nos diz Igor Stravinsky. ‘Pela imperfeição da natureza, o homem está destinado a sofrer o escoamento do tempo – de suas categorias de passado e futuro – sem jamais poder tornar real, portanto, estável, a do presente. O fenômeno da música nos é dado com o único fim de instituir uma ordem nas coisas, compreendendo aí - e sobretudo - uma ordem entre o homem e o tempo. Para ser alcançada, exige então necessária e unicamente uma construção. Feita a construção, atingida a ordem, tudo está dito.’

Diz-nos a história que o alaúde, ao tempo de Arun Arrachid, Mamún e outros... representava o símbolo da arte no Oriente. Através de suas cordas eram compostos a elegia e o canto heróico, a tristeza e a alegria, o desespero e a esperança, o crepúsculo matutino e o vespertino. Em sua música havia a solução dos mistérios da noite em paralelo com a outra para a luz do dia. ‘Ela’ possuía o idioma do amor, da pureza, da simplicidade e do desprendimento. Eis uma profícua lenda sobre El Farabi, grande filósofo e inventor de um pequeno instrumento musical, o ‘Kanun’, com mais de 75 cordas... Um certo dia assistia a um serão musical e cantou no palácio do Emir Saif-Edaulat, seu amigo e protetor. Antes do fim do serão, o Emir pediu a ele que tocasse algo. El Farabi tocou seu ‘Kanun’ e produziu um som que fez eclodir uma gargalhada nervosa em todos os ‘assistentes’. Destarte, mudou de tom e a maioria às lágrimas foi levada. Por último, transfigurou-a novamente e o sono apoderou-se dos presentes... Lenda? A ciência psicológica moderna tal como a sapiência dos antigos revelam que sobretudo as músicas suaves produzem um som magnético... Uma marcha fúnebre causa melancolia. A militar excita o sangue; e o que dizer da dança?
Por isso, incensa a tradição semítica: A música é filha do sentimento e sua melhor intérprete.

É possível percebermos, para não citar outras infindas, na referida historicidade arábica a exaltação de uma‘magnificência do grandioso, do ímpeto da glória e da extática sublimidade.’ Segundo Paul Valéry, as produções da arte sugerem a idéia de homens mais precisos, mais donos de si mesmos, de seus olhos, de suas mãos, mais diferenciados e articulados que aqueles que contemplam a obra feita, e não enxergam os ensaios, os arrependimentos, as desilusões, os sacrifícios, os empréstimos, os subterfúgios, os anos e, finalmente, as circunstâncias favoráveis - tudo quanto desaparece, tudo o que está mascarado, dissipado, reabsorvido, calado e negado, tudo o que é conforme a natureza humana e contrário à sede do maravilhoso - e que constitui, no entanto, um instinto primordial desta natureza. Assim pretende o ideário ophicínico.

 

'Sem a Música a vida seria um erro.' (Nietzsche)

 

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