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a
hora
do lobo
"Abaixo, index a sítio eletrônico
´A hora do lobo´- construído em outrora e dedicado a O.M. por renata d´Almeida (hoje, teórica em cinema, residente em lisboa).
tal conteúdo, naquele nicho virtual, servira de
introdução à melgaciana
Perplexidade do Olhar.”"
[Confrari|oM]
 
Belo Horizonte,
Minas Gerais,
Brasil,

"Um minuto pode parecer uma eternidade. Está começando agora... Dez segundos...
Como estes segundos se prolongam! O minuto não se completou ainda...
Você escutou como é silencioso?"
"É...silencioso."
"Havia uma época quando as noites eram para dormir... um sono profundo, sem sonhos!
Temor de ficar acordado todas as noites até amanhecer...
Esta é a pior hora. Sabe do que a chamam?
Os mais velhos a chamam
‘a Hora do Lobo’.
É a hora quando a maioria das pessoas morre.
Quando a maioria das crianças nasce.
Agora é quando os pesadelos vêm nos visitar...
E se estamos acordados..."
"Ficamos com medo."
"Ficamos com medo...
Dentro de mais ou menos uma hora vai clarear.
Aí então, poderei dormir...”


Neste último ano do século XX, ao dedicar parte da minha vida a um curso de cinema com o intuito de sincronizar a história, a teoria e a produção da sétima arte tive conhecimento da existência de Otacílio Melgaço, também natural de Minas Gerais.
Há menos de uma década chegou a roteirizar e dirigir seu primeiro curta-metragem (‘Le Guide des Perplexes’) sendo ´Le Guide...´ fruto de uma oficina proporcionada pela Pontifícia Universidade Católica-MG que teve como propagadores os senhores Paulo Antônio Pereira
 e Hélio Gagliardi.
Poucas semanas após o findar do curso, o curta de Melgaço, é importante constar, entra em cartaz no 'Usina Banco Nacional de Cinema' de Belo Horizonte em meados da década dos 1990, como parte integrante e intrigante da trigésima segunda mostra/PUC de cinema...
Convidado pela instituição que, por ponderadas razões, permanecerá anônima neste site, e na qual atualmente estudo, para palestrar em 2000 sobre sua experiência cinematográfica, Otacílio decidiu escrever um breve e, segundo ele, 'jocoso' ensaio a respeito de ‘relembramentos subjetivistas, efêmeros e desimportantes’.
Após alguns meses, tive acesso ao resultado monográfico de suas conjecturas porque inevitavelmente eu seria uma das espectadoras de sua palestra, caso acontecesse. Como não se concretizou, devido à timidez ou aos ares monásticos do convidado ilustre, o texto ao qual me refiro como que a substituiu e, assim, seus escritos foram apreciados por minha curiosidade de aprendiz.
Logo que o magnetismo de suas palavras me deu uma pequena trégua, entrei em contato com Melgaço através de e-mail. Disse que gostaria de homenageá-lo e, ao me indagar ‘Seria estimulante mas como pretenderia?’, respondi ‘Revelando seu texto a internautas que, porventura, ao visitar um website...’.
Ele hesitou muito e, sua reverência a Guimarães Rosa ficou para sempre gravada em mim: "Tenho de me recuperar, deslembrar-me, excogitar-me - que sei, srta. Almeida? das camadas angustiosas de minha memória"... Depois de longa tentativa de convencimento e de uma quase desistência, finalmente ele se rendeu ao meu clamor!
Fico felicíssima ao saber que seus ‘serpenteamentos’ (como gosta de se referir) possam ser úteis aos admiradores da arte cinematográfica e, por conseguinte, das reflexões pertinazes daqueles que a tentam realizar, e quando penso no Brasil, mesmo a duras penas. E, defronte a mediocridade da maioria absoluta das produções tupiniquins, o fazem com heróica maestria.
Muito obrigada,
renata d´Almeida


Como ‘Le Guide des Perplexes’ é dedicado a Ingmar Bergman, Otacílio realizou seu ‘ensaio’ inspirado nele. Neste caso, algumas citações que foram salpicadas no texto pertencem ao cineasta sueco propositadamente. Melgaço comentara comigo que assim poderia gerar uma espécie de ‘hiperenquadramento metalinguisticamente temático’ superpondo sua monografia a frases aleatórias de Ingmar. Uma ´contrapontuação musical´, nas palavras de Otacílio. Originalmente estão em ‘itálico’. Aqui, preferi uniformizar todo o texto para inbricar O.M. e Bergman ainda mais.
Seu ideal seria constituir um mimetismo para com o mestre de ‘O Sétimo Selo’; típico de Otacílio em seus vários sites que transitam pela Internet, um processo de ‘bricolagem’ que até mesmo extrapola sua própria referência principal e atinge outras menções que me
parecem fabulosas.
Porém, eu tanto percebo a relação entre a linguagem cinematográfica do diretor sueco e ‘Le Guide’ (e penso, de imediato, em ‘Fanny & Alexander’) quanto de Clarice Lispector e do primeiro curta de Otacílio. Na minha opinião, um característico olhar feminino do diretor mineiro é tão gerador da perplexidade selvagem da escritora nascida na Ucrânia mas incomparável ao se ‘radicar em língua portuguesa’ como, sem a mínima dúvida, do revestimento dramático de Ingmar. Não sei se ele, Otacílio, concordaria mas é o que concluo e registro em A Hora Do Lobo. Se ‘a palavra é a quarta dimensão’ para Melgaço, seu cinema é holográfico!
E, com uma frase de Clarice e, por sinal, a autora é citada pelo diretor e roteirista de 'Le Guide' inadvertidamente?, me despeço de todos que prestigiam este site:
“A verdade é o resíduo final de todas as coisas, e no meu inconsciente está a verdade que é a mesma do mundo.
A Lua é, como diria Paul Éluard, éclatante de silence”.

Meus mais sinceros agradecimentos a Otacílio Melgaço por sua boa vontade espartana e por suas sugestões de Maurits Cornelis Escher para a figuração dos quadros na página Le Guide. Escher que 'não é nenhum surrealista a nos levar para mundos fantásticos. Ele é um construtor de mundos impossíveis que, de forma exata e regular, representa nas suas gravuras o impossível como realidade. O resultado é um jogo intelectual de perplexidade, com dimensões e perspectivas, que mostra ao observador os hábitos e os limites dos seus sentidos'. Agradeço também suas´rosianas´ frases que projetam a galeria de fotos que é dedicada a I.B.
 
[Cinema é uma espécie de velhice. É luz lembrada.
 
Cinema é uma outra sombra, em falsa claridade.
 
Cinema é antidiluviano.
 
Cinema é a procissão algébrica da dúvida.
Como uma tradução,
é saída contra Babel.]

Talvez tanto quanto o antológico ‘relógio sem ponteiros’ de ‘Morangos Silvestres’, outro 'Guia' de outra 'Perplexidade', a frase de Strindberg que encerra ‘Fanny & Alexander’ seria a melhor resenha à
promissora obra de O.M.:

"Tudo é possível
e provável...
Tempo e espaço não existem...
Sobre a frágil base
da realidade
a imaginação tece
novas formas..."
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