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V i d e o g r a f i a

 

 

 

Todas as obras abaixo citadas

poderão ser assistidas e

apreciadas em Perfil

do artista: aqui.

[via Youtube

omteam]

 

V i d e o a r t e s

 

Série FRACTAIS {Especulações

Cine(magé)tico-Geometrifásicas}

 

Sob a sua Letra ´M´

Oppressive Uninvisibility

Nudo-des-Nudo

Ragan

Argos

Orquidário

Stanzas for Music

Il N´y Aura

Epos

Paranoia Oder Verwunderung?

Anechoic Chamber Music

Orugooru

Vertical Pier

Cledalismic

 

[PLUS] A curadora das videoartes melgacianas, Débora M. Kahn (artista plástica brasileira; residente em Berlim/Alemanha), assina as legendas - respectivas a todas peças contidas no perfil de Melgaço em Youtube - que servem de consistente introdução a seu universo audiovisual. Está presente, portanto, em dois específicos verbetes - acessíveis via YT - relativos a um dos leitmotifs do Artista: (a opção pelos) "Fragmentos". O primeiro diz respeito a Stanzas for Music e o segundo, a Ragan. A seguir, ambos reproduzidos - a fim de aclarar, segundo ela, a seminal, ultrapoética, idiossincrática relação que Melgaço possui para com a Fragmentariedade.

 

I - "Indagado sobre sua série de Video Arts In Progress, O.M. trouxe à tona timbre de raro Fragmentista... Em minha opinião, é um dentre incontáveis fatores que o torna um Artista sui generis em tempos atuais. Não somente ancorado no tema que foco aqui-e-agora mas Melgaço multiplica e eleva o conceito de Fragmentação para outras intervenções suas voltadas ao mundo virtual como fotografias, arquivos sonoros, reflexões estéticas etc. A ciberplataforma não é mero fixo receptáculo a manifestações artísticas nem elemento pré-coadjuvante; torna-se parte ativa, constitutiva, transmórfica e arquetípica das próprias criações de Otacílio e ele - no que tange às videoartes melgaciais: suas cadências ralentadas, em transe; hipnóticas geometrias interpenetrativas, pictóricos wormholes... - segue, in a silent way, concebendo uma antiefêmera, verossímil cosmogonia: cosmogonia inconfundível e surpreendentemente galvanizante! Um fragmento tem de ser tal qual uma pequena obra de arte, totalmente separado do mundo circundante e perfeito e acabado em si mesmo como um porco-espinho.' Palavras de Schlegel em O Dialeto dos Fragmentos. Nietzsche toma o porco-espinho como metáfora do provérbio. Assim como, sob o efeito da luz e do calor do sol o porco-espinho se reveste de múltiplos espinhos, o provérbio (Sprüchwort), sob o efeito da interpretação, anuncia e promete infinitos sentidos. Por sua vez, Schlegel caracteriza o fragmento como obra de arte se valendo da natureza ambígua do porco-espinho, o qual por seus múltiplos espinhos, é, ao mesmo tempo, isolado, arisco, mas voltado absolutamente para fora e sensível às mínimas ameaças. Ensimesmado, o porco-espinho encarna a natureza problemática e conjectural de todo sentido particular. Citando Novalis, Melgaço conclui: O porco-espinho -- um ideal. " 

 

II - " 'Ragan', em Japonês, 'Olho Nu'. Aproveito 'Ragan' para reforçar o sentido de 'fragmentariedade' eleito pelo Artista para servir de 'mediun' (ou médium) entre suas proles e a internáutica. Embasada no olhar que Maria Cristina dos Santos, filósofa carioca, lança sobre Novalis, declaro que também para Melgaço - fragmentos são fluorescências, cujos sentidos remete e deixam ressoar sentidos de 'grãos seminais'. Ragan' é uma prova viva disso! Fragmentos de O.M. são Pólens e assim devem ser absorvidos! Reservar para cada fragmento uma suficiência de significados. 'Fragmente' de origem latina, 'Bruchstück': 'pedaço', caráter de algo que remete a uma totalidade, algo que é parte de um todo. Fragmento como única forma possível de expressão de um sentido que não se manifesta ou se concede por completo, mas de relance e alusivamente. Nesta via, é da mesma natureza que a unidade de sentido que ele expressa: aberto e inacabado. Remete a um fundo inacabado e incompleto que coincide com o fundo em contínuo devir do próprio homem! Referência à capacidade própria do fragmento de encarnar a incompletude do que está em devir, representado na forma temporal do imperfeito, do que se iniciou e ainda não se concluiu, percebido em primeira instância e imediatamente como inacabamento daquele que pensa. Para Novalis, pensar é, antes de tudo, caminhar, e o fragmento, enquanto expressão do pensar é, essencialmente, indicador de caminho. A relação com a verdade é uma busca, um caminhar, que tem na filosofia sua origem, seus princípios enquanto pistas e orientações de partida. Germes de fluorescências anunciadas cuja eclosão demarca trilhas existenciais. Os fragmentos de O.M. são como aforismos pois dispõem o pensamento à decifração ou à interpretação do sentido; são sempre múltiplos e ressoam para além de seus comprometimentos com um sistema ou uma época. Reivindicam por sua própria natureza a arte da interpretação, que faz deles, na verdade, o ponto de partida de um sentido em devir. Toda a simbologia contida em 'Ragan' exemplifica com perfeição a intenção desafiadora de Otacílio perante seu público quando assume a (inquietante para alguns) 'fragmentariedade' como um enigma proposto e somente resolvido se a quatro mãos. A contar com ambas de Musashi, aqui foco da esfingética homenagem melgaciana. 'Boku ga umareta kono shima no sora o 僕が生まれたこの島の空を Boku wa dore kurai shitteru n darou 僕はどれくらい知ってるんだろう Quanto eu conheço do céu dessa ilha onde eu nasci? Kagayaku hoshi mo nagareru kumo mo 輝く星も 流れる雲も Namae o kikarete mo wakaranai 名前を聞かれてもわからない Mesmo tendo ouvido o nome das estrelas brilhantes e das nuvens que passam, eu não sei. Demo dare yori dare yori mo shitte iru でも誰より 誰よりも知っている Mas de todos, eu sei mais que qualquer um. Kanashii toki mo ureshii toki mo 悲しい時も 嬉しい時も Tanto nas horas tristes quanto nas horas felizes, Nando mo miagete ita kono sora o 何度も見上げていたこの空を Eu olhei tantas vezes para esse céu. Sore ga shimanchunu takara それが島人ぬ宝 Esse é o tesouro de um ilhéu. Boku ga umareta kono shima no uta o 僕が生まれたこの島の唄を Boku wa dore kurai shitteru n darou 僕はどれくらい知ってるんだろう Quanto eu conheço da canção desta ilha onde eu nasci? Itsu no hi ka kono shima o hanareteku sono hi made いつの日かこの島を離れてくその日まで Um dia, eu vou abandonar esta ilha; até esse dia, Taisetsu na mono o motto fukaku shitte itai 大切な物をもっと深く知っていたい Eu quero conhecer mais profundamente as coisas importantes. Sore ga shimanchunu takara それが島人ぬ宝 Esse é o tesouro de um ilhéu.' "

 

1 - Videoarte da música "Composição com Traços Negros"{editada} de Otacílio Melgaço | Álbum Du Spirituel Dans L'Art / CD 2 - Dedicada a Maurits Cornelis Escher [A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.]

 

i Are you really sure that a floor can't also be a ceiling? ii We adore chaos because we love to produce order. [Perhaps would not be the inverse?] iii Only those who attempt the absurd will achieve the impossible. I think it's in my basement... let me go upstairs and check. iv So let us then try to climb the mountain, not by stepping on what is below us, but to pull us up at what is above us, for my part at the stars...

 

2 - Videoarte da música "Opus Freud, Sigmund" {editada} de Otacílio Melgaço | Álbum Salomé [A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.]

 

i Nos sonhos envergamos a semelhança com aquele homem mais universal, verdadeiro e eterno que habita a escuridão da noite primordial. ii O caráter transitório do belo aumenta ainda mais sua valorização. Uma flor não nos parece menos esplendorosa se suas pétalas só estiverem viçosas durante uma noite. iii Precisamos de amar para não adoecer. iv Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro. (Ou de ossos como se de ....aço?) ||||| v Em última análise, precisamos de amar para não adoecer. |||||

 

3 - Videoarte da música "A Posição Dos Gêmeos ou Ad Parnassum" | Álbum Du Spirituel Dans L´Art / CD 1 [A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.]

 

Filigrana de depoimento do Artista dado a mim em 22/12/2013via correio eletrônico: "A série GrIFo de videoartes trata de almejar uma recomposturação do Olhar que lhe seja mantrificada. Perante a freneticidade lobotômica delegada à ritmicidade doentiamente célere de imagens propagadas em inúmeros perfis de filmes, videoclipes etc - me parece que há uma quase normatividade da massiva quantificação (vácua, inócua) de i-n-f-o-r-m-a-ç-õ-e-s (vácuas, inócuas) em detrimento do que seria a f-o-r-m-a-ç-ã-o do exercício-do-Olhar em seu dimensionamento mais expansivo, crítico, maturável. Instituir nova temporalidade ocular ou, na realidade, o resgate de uma cadência mântrica - sólida - que nos oferenda silenciares às retinas / pausas às íris...torna-se um ato de telúrica coragem (não só artística) porque me soa parte de um antídoto à liquidez da vida contemporânea - vide Zygmunt Bauman -. Em suposta, quiçá, em princípio: inquietante repetitividade (se bem apreendida, em minimal e constante mutação), a estética que adoto em Série GrIFo deve se revelar um Abre-te Sésamo! ao magma desse enxergamento fundamentalmente sinestésico: os ouvidos que passam a ver (e repassam o ver), a pele, membros, psyché, pneuma... Também, por isso: A TransOptical ExPerience. Dentre outras analogias cifradas no termo, o Grifo é uma criatura lendária com cabeça e asas de águia e corpo de leão. Fazia seu ninho em bolcacas; punha ovos de ouro sobre ninhos também de ouro. Outros ovos são frequentemente descritos como sendo de ágata. A figura do grifo aparentemente surgiu no Oriente Médio onde babilônios, assírios e persas representaram a criatura em pinturas e esculturas. Voltaire incluiu na sua novela, A Princesa da Babilónia, dois enormes grifos amigos de uma fénix, que transportaram a princesa na sua viagem. Na Grécia acreditava-se que viviam perto dos hiperbóreos e pertenciam a Zeus. Filóstrato, escritor grego, referiu, na Vida de Apolônio de Tiana (livro VI. I), que os grifos da Índia eram guardiões do ouro. John Milton, no Livro II do Paraíso Perdido escreveu sobre os Arimaspos que se tentavam apoderar do ouro dos grifos. Também foi referido na poesia persa de Rumi. Na Idade Média Sir John Mandvilleescreveu sobre estes animais fabulosos no capítulo XXI do seu célebre livro de viagens no qual grande parte dele foi escrito pelo mesmo autor do Kama Sutra. Em tempos mais recentes, sua imagem passou a figurar em brasões pois aparentemente possui muitas virtudes e nenhum vício. Como diversos animais fantásticos, incluindo centauros, sereias, fênix, entre outros, o grifo simboliza um signo zodiacal, devido ao senso de justiça apurado, o fato de valorizar as artes e a inteligência, e o fato de dominar os céus e o ar, simboliza o signo de libra, a chamada balança. Já me parecem metáforas mais que suficientes, não?"

 

4 - Teaser do álbum duplo Du Spirituel Dans L'Art (Der Blaue Reiter - MELGAÇO'S MUSIC PROJECT) | Videlectroarte da música "Composição Em Cor A"; fragmento [Appendix \ A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.]

 

i Antes do teu olhar, não era, nem será depois — primavera. ii Pois vivemos do que perdura, não do que fomos. iii Desse acaso do que foi visto e amado: iv — o prazo do Criador na criatura...

 

5 - Teaser da coletânea Gêmeos de Cocteau [Peças melgacianas remixadas pelo próprio Artista] | Videoarte da música "VI"; fragmento [Appendix \ A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.]; Peça Poético-Sonora |

 

i "O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar..." ii "Como suportar, como salvar o visível, senão fazendo dele a linguagem da ausência, do invisível?" iii Viver a vida "em círculos cada vez maiores que se estendem sobre as coisas." iv "Tudo quanto é velocidade não será mais do que passado, porque só aquilo que demora nos inicia."

 

6 - Teaser animado (dedicado a Lourenço Mutarelli) do álbum Bloomsday | Videoanimação da fonopeça"Bloomsday"; fragmento ´Odisséia´ [Appendix \ A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.]; Peça Poético-Sonora | 

 

| "Bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk! Klikkaklakkaklaskaklopatzklatschabattacreppycrottygraddaghsemmihsammihnouithappluddyappladdypkonpkot! Bladyughfoulmoecklenburgwhurawhorascortastrumpapornanennykocksapastippatappatupperstrippuckputtanacheh? Thingcrooklyexineverypasturesixdixlikencehimaroundhersthemaggerbykinkinkankanwithdownmindlookingated. Lukkedoerendunandurraskewdylooshoofermoyportertooryzooysphalnabortansporthaokansakroidverjkapakkapuk. Byfall. Upploud! Bothallchoractorschumminaroundgansumuminarumdrumstrumtruminahumptadumpwaultopoofoolooderamaunsturnup! Pappappapparrassannuaragheallachnatullaghmonganmacmacmacwhackfalltherdebblenonthedubblandaddydoodled and... Husstenhasstencaffincoffintussemtossemdamandamnacosaghcusaghhobixhatouxpeswchbechoscashlcarcarcaract Ullhodturdenweirmudgaardgringnirurdrmolnirfenrirlukkilokkibaugimandodrrerinsurtkrinmgernrackinarockar!"

 

7 - Pixelarte da música "Angical" | álbum Veredas Mortas | {V.M. integra Trilogia dedicada a João Guimarães Rosa. Suas peças reconstituem sonoramente itinerariodisseia da Obra ´Grande Sertão: Veredas´} [Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.] | Peça Instrumental |

 

i "Viver é muito perigoso." ii "A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?" iii "Quem desconfia fica sábio." iv "Tudo que é bonito é absurdo -- Deus estável."

 

8 - Videoarte da peça sonora "Mort Peut Danser"; editada | Álbum Mort Peut Danser (Um Ballet Imaginário) | [A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.] | Peça Instrumental |

 

i "Nascer é a grande improvisação." ii "A poesia não é uma crença. Nem uma lógica. A poesia é um ato. Um ato que nega todos os atos. Aí se dá no instante em que a sombra do sonho parece a sombra do poema." iii "A eternidade é um dos argumentos principais do Butoh. Ela cabe no instante, e esta consciência serve para ultrapassar as barreiras do corpo." iv "O único movimento que tem significado é aquele que deriva da alma."

 

9 - Teaser do álbum Omnia Vincit Amor | Videoarte da peça sonora "In Situ"; fragmento [Appendix \ A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M.] | Peça Instrumental |

 

i "A definição de belo é fácil: é aquilo que desespera." ii "Ora penso, ora existo." iii "Acostuma-te a pensar como Serpente que se devora pela cauda. Pois aí está toda a questão. Eu contenho o que me contém e eu sou sucessivamente continente e conteúdo." iv "É preciso ser leve como o pássaro e não como a pluma."

 

10 - Exploding Projection Inevitable. E.P.I. representa a transposição de uma das peças pertencentes à série GrIFo para a não-virtualidade. Concepção, montagem, edição, direção: O.M. |

 

A partir de Imagem em still (tríptico "SiloquesSuperloquesSoliloques") da Exposição fotográfica de Melgaço "Джокер и вор" (дешево Gallery/Moscow/RU\2013), Projeção de obra GrIFada do artista tendo como Trilha de fundo - fragmento de versão alternativa da canção "Kiss Your Mind" (originalmente contida em álbum Desiderium). 

 

Curiosidades: I- O exemplar E.P.I. (da série GrIFo), ao ser projetado, toma toda e qualquer matéria enquanto suporte, isto é, as fotografias expostas, a parede que lhes serve de esteio e os próprios (corpos dos) visitantes que por ali passarem ou temporariamente estatuetários ficarem; II- A versão de "Kiss Your Mind" foi capturada diretamente de uma rádio moscovita; III- Efeitos cinemáticos perceptíveis no registro de E.P.I. - em contraste com o still - lhes são elementos concepcionalmente inerentes. | Agradecimentos a Elissa Grigorievna e Vassily Minkoff. |

 

i "As idéias claras são inumanas." ii "A indissolubilidade da forma e do fundo." iii "Talvez rei (roi) - talvez nada (rien)." iv "O que há de mais fecundo para o pensamento que o imprevisto?"

 

11-  Teaser do álbum Minotauromancia | Versão primeira de Videoarte da Cantoria "Opus XIV (a João G.R.)" V.I | Appendix \ A TransOptical ExPerience / Série GrIFo - concepção, montagem, edição, direção: O.M. | Peça de melgaciano folklore |

 

i "Cego corre perigo maior é em noite de luares..." ii "Conto o que fui e vi, no levantar do dia. Auroras." iii "A vida também é para ser lida. Não literalmente, mas em seu supra-senso. De onde vem o medo? Ou este terráqueo mundo é de trevas, o que resta do sol tentando iludir-nos do contrário..." iv "Porque amar não é verbo; é luz lembrada." 

 

12 - Teaser - Versão segunda de Videoarte da Cantoria"Opus XIV (a João G.R.)" V.II | Peça fonofolc(o)lórica de O.M.

 

13 - Exploding Projection Inevitable | Concepção, montagem, edição, direção: O.M. | Instalação Fonovideática [Appendix \ A TransOptical ExPerience / Série GrIFo Alive] | Do álbum Aleph | Peça sonora "Gan Eden", fragmento.

 


V i d e o c l i p e s

 

1 - O Videoclipe da canção contida em Obra discográficaDesiderium - "Kiss Your Mind", integralmente realizado viasui generis técnica de animação, foi lançado - em evento produzido por Carlos Alberto Sousa/Érica Diniz - noGalpão Cine Horto (29 de Março de 2005 - Belo Horizonte/MG) atuando Melgaço - além de compositor, instrumentista, arranjador - como roteirista e diretor.

 

Testemunha-se nítida homenagem à capital das Minas Gerais haja vista que seminais marcos turístico-arquitetônicos configuram o cenário do clipe: - de Oscar– a Igreja de São Francisco (Pampulha) e o Prédio Niemeyer em Praça da Liberdade; além do Parque Municipal, Viaduto de Santa Tereza etc.

 

Sobre "K.Y.M.", são duas as versões. Em ambas reiteram-se: roteiro, direção (e canção) da obra audiovisual: Otacílio Melgaço / Produção: O.M. e I.A. / Desenhos & Animação: Ivana Almeida
 

À original poderá ser assistida em inúmeros espaços internéticos como os cosmopolitistas sítios eletrônicos da MTV. A título de exemplo, link para o site da Music Television em Reino Unido/U.K. 
 

A segunda (chamada de 'Noir' por Otacílio) foi realizada em 2015 em celebração aos dez anos de lançamento da primeva. Concepção, adaptação, efeitos, feitura deMelgaço. Está disponível em Youtube, aqui, com o seguinte intróito de Débora M. Kahn:

“'We only pass everything by
like a transposition of air.'
― Rainer Maria Rilke, Duino Elegies

 

'Escuta, coração como outrora somente
os santos escutavam: até que o gigantesco apelo
levantava-os do chão. (...) Escuta o sopro,
a incessante mensagem que nasce do silêncio.'

Artistas comuns costumam ser coerentes.
Os grandes são paradoxais.
Paradoxal à vasta discografia dedicada ao universo erudito contemporâneo, voilà!: o primeiro videoclipe deOtacílio Melgaço extraído de 'Desiderium' que, apesar de ser um álbum voltado à música (popular?) brasileira - MPB -, tem 'Kiss Your Mind' como acid jazz. Do 'music video' ou 'song video' inteiramente feito em animação, as imagens que serão vistas pertencem à comemorativa versão 'Noir'engendrada por O.M. em 2015, a partir da obra audiovisual parida e já exibida há alguns anos em previewbelorizontina. Por sinal, em um tributo multifocal, a capital de Minas Gerais lhe é cenário! Uma curiosidade, a original - em tom sépia - possui como intro: 'Prelúdio Orquidário', peça igualmente presente em 'Desiderium' na qual há trompete e, ao fundo, sons registrados em ruas novaiorquinas.

Faço minhas as palavras do crítico francês J. Dupin: 'Le multiartist Otacílio Melgaço est consacré à la musique scolastique et aussi populaire de son pays, Brésil. Et à l'instrumental, performance, e-music/rock/folk/ethnic... Est-ce qu'il pourrait nous surprendre plus encore? Certitude absolue! Maintenant il embrasse nos esprits avec un sophistiqué club jazz! Melgaço dans videoclip, pincements de Miles Davis, qui apporte Klimt, Bergman, Escher, Picasso, Wenders, Van Gogh, Portinari, Munch et tant d'autre. Les références passionnantes sont fondues!O.M. conquiert la proéminence dans le couloir des artistes-caméléons (...)'.

 

A canção foi remixada pelo próprio criador exclusivamente para a nova mídia. Segundo ele, em princípio, uma (séria) paródia de músicas pertencentes a nichos ditos 'pop'. No entanto, levando-se em consideração o fato de Otacílio manter propositalmente um certo distanciamento 'cool' em sua interpretação - a voz chega a lembrar a do suíço Kurt Maloo, entre aristocrática sobriedade 'less is more' e equalizado charme naïf -, estamos diante de um lirismo cativante, de uma elegância portadora de rara exuberância e de um incontestável primor de leveza. As imagens da artista plástica Ivana Almeida são também de singular sensibilidade.

Contrastante e por isso enriquecedora, a letra aborda uma temática densa e, assevera O.M., remete a um 'Fausto-às-avessas'.

 

‘Noir', como a terminologia aponta, é - na acepçãomelgaciana - 'refém de quintessencial e mesmerizante translucidez'. Não obstante, simbolicamente além da sutil desfocagem gaussiana, foi convertido a colorífero verde musgo escuro. Para Kandinsky, o verde é o ponto de equilíbrio entre as forças do amarelo e do azul, e por uma cor ter o movimento concêntrico e a outra movimento excêntrico as duas se anulam. O movimento é cessado no verde. É a cor mais calma entre todas. Representa passividade saudável, repleta satisfação, é tonificante e na natureza a de maior vitalidade e exuberância. Não é quente nem fria, está em equilíbrio. Musicalmente: escalas medianas, sem extremos de graves ou agudos. Contudo, em um aspecto Otacílio perverte o pensamento de Wassily. Se para o pintor russo o verde representa um estado pleno de satisfação e realização, sem desejo, portanto, imóvel e passivo; para o multi-artista brasileiro, há um dado novo. Na busca por e à beira da satisfação e realização plenas, ainda há espaço ao desejo e assim, há mobilidade e atividade.

 

'Noir' se aproxima mais da narrativa onírica na qual existe uma logicidade idiossincrática e as incógnitas se tornam proliferadas; o olhar é exigido não somente como veículo de absorção mecânico-instantânea mas locomotriz intuição, construção quase cega em favor de um divisar e decupar além. Assim como em Edgar Allan Poe: 'Deep into that darkness peering, long I stood there, wondering, fearing, doubting, dreaming dreams no mortal ever dared to dream before.' E agora, uma década após o sabido desvirginamento audiovisual, em 'Noir' - nós somos do tecido de que são feitos os sonhos ainda mais já que sonhar é acordar-se para dentro. Sim, mais do que nunca, todo sonho representa a realização de um desejo, de um desiderium!


'Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordens
Dos anjos? E dado mesmo que me tomasse
Um deles de repente em seu coração...' "

 

[PLUS] Reprodução do conteúdo de Libreto redigido por O.M.e disponível aos presentes em cerimônia mais acima referida, ocorrida a 29 de Março de 2005 - Belo Horizonte/MG:

 

{Sonetilho do Falso Fernando Pessoa - "Onde nasci, morri. Onde morri, existo. E das peles que visto muitas há que não vi. Sem mim como sem ti posso durar. Desisto de tudo quanto é misto e que odiei ou senti. Nem Fausto nem Mefisto, à deusa que se ri deste nosso oaristo, eis-me a dizer: assisto além, nenhum, aqui, mas não sou eu, nem isto."(Carlos Drummond de Andrade) / «Fausto – Não foram então os meus conjuros que te trouxeram? Mefistófeles – Sim, foram eles a causa, mas só per accidens, Pois se ouvimos alguém vexar o nome de Deus, Abjurar o Escritura e o Cristo Salvador, Logo acorremos na esperança de conquistar Essa alma gloriosa. (...) Fausto – Diz-me o que é esse Lúcifer, teu senhor. Mefistófeles – Arqui-regente e chefe dos demónios. Fausto – Não foi outrora Lúcifer um anjo? Mefistófeles – Pois foi, Fausto, e bem amado de Deus que ele era. Fausto – Como se tornou então no Príncipe dos diabos? Mefistófeles – Oh...! Por orgulho, ambição e insolência, E por isso Deus o expulsou do Céu. (...) Fausto – E para onde fostes condenados? Mefistófeles – Para o Inferno. Fausto – Como é que então estás aqui, fora do Inferno? Mefistófeles – Mas isto é Inferno; não estou fora dele.» (Christopher Marlowe, História trágica da vida e morte do Doutor Fausto, 48-49.)

 

I n t r ó i t o

 

A história do Fausto, que teria feito um pacto de sangue com o diabo para auferir conhecimentos e poderes mágicos e cuja alma é levada ao inferno após o período estipulado com o demônio, era desde o século XVI, uma das lendas mais populares na Alemanha. Baseando-se em relatos e crônicas sobre um certo Johann ou Georg Faust, que nasceu na virada do século XV para o XVI e que morreu em circunstâncias misteriosas e violentas entre 1540 e 1541, Johann Spiess publicou em 1587 o livro História do Dr. Johann Faust, vendido em feiras populares por todo o país. Nesta época de profundas crises religiosas, com a emergência do protestantismo e da contra-reforma católica e da turbulenta transição entre a Idade Média, em seus estertores, e a Era Moderna, alquimistas, astrólogos e adeptos da magia negra de toda espécie suscitavam enorme fascinação popular não só na Alemanha como em toda a Europa. No fim do século XVI, o dramaturgo inglês Christopher Marlowe escreve o primeiro drama baseado na narrativa de Spiess: The tragical history of Doctor Faustus. Vários outros autores nos séculos seguintes, como Thomas Mann (1875-1955), se apossaram do tema para a consecução de dramas e até de teatro de marionetes, que Goethe assistiu já na infância.

 

I - Goethe e a Arquetipia Faustiana

 

O maior sonho de Fausto é encontrar dentro de si uma correspondência harmônica com a natureza universal. O poeta e escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) decidiu escrever a sua versão da história, que traz o conteúdo arquetípico da insatisfação e busca (através da obra literária).

Na primeira parte, o nó da trama é o pacto de Fausto com Mefistófeles, pelo desejo de saber e pela sede de gozar. Na segunda parte, o nó é a aposta contratada entre o Senhor - que afirma que Fausto se salvará - e Mefistófeles - que espera degradar Fausto à condição de besta. Fausto é, na obra, o símbolo da humanidade - que erra enquanto age, mas que deve agir para atingir o ideal que ela mesma entreviu. Fausto é salvo porque jamais cessou de tender para um ideal. (HOUAISS, 1970.) Cito aqui alguns trechos da obra de Goethe que explicitam o tema: Mefistófeles: “De sol e de mundos nada sei dizer, vejo apenas como os homens se atormentam. O pequeno Deus do mundo [o homem] continua na mesma e está tão admirável assim como no primeiro dia. Um pouco melhor ele viveria, não lhe tivesses dado o brilho da luz celeste; ele chama isto razão e lança mão dela somente para ser mais animalesco do que cada animal.” (p. 13.) Fausto: “Temos necessidade justamente daquilo que não sabemos e sabemos aquilo que não sabemos utilizar.” (p. 38.) Essas citações da obra nos tocam porque nos ensinam sobre nós mesmos. É essa a função primeira do arquétipo e do mito: ensinar-nos sobre nós mesmos, sobre a condição humana, sobre o nosso processo de vida - os mitos expressando aquilo que nos é incognoscível, em si mesmo, nos arquétipos.

 

II - De Fausto e d’um Anjo Rebelde às avessas,

“Kiss Your Mind”

 

Inúmeros místicos iluminados, como Samael Aun Weor, vêem na obra de Goethe a mão inconfundível de um Iniciado esclarecido, e percebem plenamente o grande significado cósmico nela contido. Devemos entender que a história de Fausto é um mito tão antigo quanto a humanidade. Goethe apresentou-a envolta numa verdadeira luz mística, iluminando um dos maiores problemas da Filosofia, o Mito do Salvatur Salvandus "travestido" como O Tentador, o Insuflador da Rebeldia Interior contra o Adormecimento e a ingenuidade imatura da Essência humana. Esse Tentador é representado pelo Diabo.

Em obra audiovisual “Kiss Your Mind”, há, em pontual sentido, uma contemporânea inversão do Mito em questão. De ambos protagonistas e a manter a terminologia letrística - as figuras de um “Homem Velho” e do (caído?) “Anjo”: Fausto identificar-se-ia com o “Ser Angelical” e; Mefistófeles habita o eu-profundo do “Prístino Homem”.

Em Goethe e seu diabo da guarda, Vittorio Mathieu observa como Mefistófeles é a "força que, das trevas, faz vir à tona o positivo do homem". Tal qual afirma Deus, dirigindo-se a Mefistófeles no Prólogo no Céu, "Não deves senão mostrar-te, livremente, como o que és; nunca odiei os teus pares; de todos os espíritos que negam, o zombeteiro é o que menos me aborrece. A atividade do homem se enfraquece muito facilmente, e ele se deitaria com prazer num repouso absoluto. Por isso ponho ele bom grado a seu lado um companheiro que o estimule, e aja, e que tem, como Diabo, de criar". O Diabo é posto de bom grado ("gern") por Deus como colaborador do homem. Como notava Mircea Eliade, "se poderia falar de uma simpatia orgânica entre o Criador e Mefistófeles". Goethe faz de Mefistófeles, do mal, a mola que leva à ação ("Tat") àquilo que é positivo. Trata-se da idéia, destinada a ter ampla difusão, segundo a qual o caminho para o Céu passa pelo inferno. O homem só se torna homem, vivo, inteligente, livre, saboreando até o fundo o sabor amargo da vida. Ao contrário, a inocência da "alma boa" é inércia, êxtase, morte. Hegel, com sua dialética do negativo, dará uma suntuosa veste teórica a essa idéia. O homem deve pecar, deve sair da inocência natural para se tornar Deus. Deve conhecer, como Deus, o bem e o mal: eis o repertório existencial que tal “Old Man” (vide letra da canção – protorroteiro à Obra exibida) traz em si, gerando de seu “inferno interior”: um conhecimento maior. Esse conhecimento "é a origem da doença, mas também a fonte da saúde, é o cálice envenenado no qual bebe a morte e a putrefação, e ao mesmo tempo o ponto em que nasce a reconciliação, uma vez que pôr-se como mau é em si a superação do mal". Nessa perspectiva, a figura do Anjo rebelde, daquele que, provocando o homem, o alçaria à sua liberdade, ganha um novo esplendor. Passo a passo, Mefistófeles se torna o herói, o Prometeu moderno, o libertador.

Em nosso kissyourmindiano Anjo, Fausto reverbera. Aqui não é mais um indivíduo apenas e sim representante de toda a Humanidade. O maior sonho “desse” Fausto é encontrar - dentro de si logo de cada um - a correspondência harmônica com a natureza universal. Refiro-me, pois, a sua pactária redenção em direção epilogamente: ao sagrado, a Deus. Tal Anjo, aqui, não é rebelde e se propriamente caído é, é no sentido de transmigrar do Alto à via crucis terrenal do “Velho Homem”... Como Deus profere, autorizando Mefistófeles a tentar Fausto: Enquanto ele estiver sobre a Terra / nada te será proibido / O homem se perde, erra por ambicionar tanto. E por errar, acerta. E por se deixar aprisionar, liberta-se...

Mefistófeles, indiscernível ao – tido, em letra, como apriorizado, pressuposto – drama do “Homem Velho” (o mesmo que assola o Ser contemporâneo): torna-o, ou há de torná-lo, algoz e herói de si mesmo. Clama por pacto com arquetípico, fáustico Anjo (direcionador etérico à siamesa pactariedade) como que proponente de anabásicoenveredamento-mor: vender sua alma a Deus...

“Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas de seguir a trilha do herói; e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontramos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo.” (Joseph Campbell)

 

A 29 de Março de 2005, Belo Horizonte, Minas Gerais;

Otacílio Melgaço.}

 

(Fonte: gentilmente cedido fragmento do Espólio privado do Artista.)

 

[plus]  De “Kiss Your Mind”, “Ósculos às Mentes Abertas” um ‘suposto’ release videoclíptico

por Pablo Suarez Paz

 

(Música, Roteiro e Direção: Otacílio Melgaço

Arte e Animação: Ivana Ferraz)

 

O músico (multiartista) e a desenhista, ambos mineiros, contrapontuam suas perspectivas sonoras e plásticas em “Kiss Your Mind”, animação realizada a partir de uma das canções do disco de estréia de Melgaço, “Desiderium”. Em princípio, não se sabe até que ponto estamos diante de um videoclipe ou de uma animação propriamente. Impressão, fruto de uma dúvida que muito nos privilegia pois assim sepultamos qualquer necessidade de categorizações/rotulações, prova da pluralidade e do fôlego da obra aqui focada. Há casos em que, quando tal confluência existe (imagens em prol de sons/sons em prol de imagens), nos percebemos diante de uma hierarquia natural ou predeterminada. Existe uma trilha visual a servir de coadjuvante à canção, ao artista majoritariamente trazidos a lume, ou, o contrário, indelével conjuntura cinético-pictórica a ser secundada por trilha sonora. “Kiss Your Mind” não se adapta a nenhuma dessas formatações. Transmuta-se constantemente em ambas mas, a meu ver, toma uma terceira via mais complexa, relevante: rompe a dualidade e atinge o ‘dual’. Estamos diante de um grau tão sui generis de eclipsamento que teríamos de encontrar uma nova forma de defini-lo. Eu, resumitivo, utilizaria o termo “fonocular”. “Kiss Your Mind” é fonocular, uma dimensão inabitual aos universos videoclíptico e de animação. Por mais incrível ou inesperada que possa parecer a afirmação que acaba de ser feita, raras vezes constato o atingimento desse ‘amálgama’ a ser veiculado nos nichos acima citados. Destaco o fato de que, epidermicamente, a estilística (da canção) de Melgaço e o traço de Ferraz pareceriam contraditórios. A opção de ambos pelo paradoxo se torna mais um indício do pluralismo desses dois artistas. Apesar da paralelidade entre a mensagem, em Inglês, revelada pela letra da faixa que serve de coda a “Desiderium” e o enredo imagético da obra de que explano, a cosmopolita contemporaneidade sonora alia-se à obscuridade plasticamente retrô das seqüências visuais para contemplar “a riqueza e eufonia de cada lingua(gem)” porém direcionando-nos à “contigüidade, por solidificação – cristalização...”, em paráfrase a Novalis, “...dissolvendo a existência alheia em própria” e vice-versa. Refutemos a efemeridade que infesta grande parte das produções artísticas da pós-modernidade para nos adentrarmos um pouco mais no que realmente nos propõe a criação áudio-visual à qual esboço um suposto releasensaio. “Nossa pré-compreensão da arte está condicionada ao mesmo tempo e, com a mesma intensidade, pelos cânones estéticos, cuja formação foi registrada pela história e por aqueles cuja consagração permaneceu latente: pela tradição consciente da escolha e pela tradição do evento, anônimo e inconsciente, como tudo aquilo que a sociedade institucionaliza de forma latente. Como afirmação estética produtiva fundamental, a poiesis” que configura e permeia “Kiss Your Mind”, “corresponde à caracterização de Hegel sobre a arte, segundo a qual o indivíduo, pela criação artística, pode satisfazer a sua necessidade geral de ‘sentir-se em casa, no mundo’, ao ‘retirar do mundo exterior a sua dura estranheza’ e convertê-la em sua própria obra.” A conversão de Melgaço e Ferraz nos leva a um supramundo, metamundo. “Kiss...” trata da transcendência onto-lógica, re-ligante de um homem, the old man. “Diferentemente do texto religioso canônico, que tem autoridade e cujo sentido pré-estabelecido deve ser percebido por ‘qualquer um que tenha ouvido para entender’”, ainda segundo Hans Robert Jauss, “o texto poético” (aqui, o animado engendro de ambos) “é concebido como uma estrutura aberta onde deve se desenvolver, dentro do campo livre de uma compreensão dialogada, um sentido que não é de início ‘revelado’, mas que se ‘concretiza’ no fio das recepções sucessivas cujo encadeamento corresponde àquele”, atípico aos cavalares pastiches artísticos mass mediatizados, “das perguntas e das respostas. ”Chamo-lhes a atenção a um dos elementos que comprovam a profundidade e amplitude (semi-fon-óticas) da obra parida pelo duo mineiro: a interdisciplinaridade. Menções diretas a René Magritte, Pablo Picasso, M.C.Escher... (artes plásticas), Ingmar Bergman, Wim Wenders... (cinema), Miles Davis... (música), etc etc, são transfusionadas à sinopse “kissyourmindiana” elevando-a, como enquadramento conceitual, a uma potência intrigante. Aliás, se Belo Horizonte, capital do Estado das Minas Gerais, faz-se cenário ao ato iniciatório de um anjo em relação ao expiável velho homem, talvez nunca antes tão bem a cidade das Alterosas tenha sido projetada como mosaico de intemporais fonéticas pedrarias, minérios interiores, ideogramas-vertigem, soslaios de vidro e corte. Rainer Maria Rilke, em sua primeira elegia (de Duíno), lhe serve de prólogo: “Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordensDos anjos? E dado mesmo que me tomasseUm deles de repente em seu coração, eu sucumbiria Ante sua existência mais forte. ”Permitam-me prolongar, neste intróito agora sob minha pena, a intervenção do poeta: “Pois o belo não é Senão o início do terrível, que já a custo suportamos, E o admiramos tanto porque ele tranqüilamente desdenha Destruir-nos. Cada anjo é terrível. E assim me contenho pois, e reprimo o apelo De obscuro soluço. Ah! A quem podemos Recorrer então? Nem aos anjos nem aos homens... (...) ”Restar-nos-ia talvez recorrer à alguma árvore na encosta que diariamente possamos rever? Restar-nos-ia a rua de ontem e a mimada fidelidade de um hábito que se compraz conosco e assim fica e não nos abandona? Até que lentamente se divise... Os anjos (dizem) não saberiam muitas vezes se caminham entre vivos ou mortos. Nem tanto anjos, nem tanto humanos, Melgaço e Ferraz nos trazem ósculos às mentes, às almas, se abertas, se dispostas ao “outro lado do ar: puro, gigânteo, já não habitável”, sim, até que lentamente se divise um pouco...Tais as personagens que protagonizam “Kiss Your Mind”, perdemos docemente o hábito do que é terrestre, como o seio materno suavemente se deixa, ao crescer. Mas nós que de tão grandes mistérios precisamos, para quem do luto tantas vezes o abençoado progresso se origina -: poderíamos passar sem eles? Não, digo eu, assim como nunca será vã a lenda de que outrora, lamentando Linos, a primeira música ousando atravessou o árido letargo, que então no sobressaltado espaço, do qual um quase divino adolescente escapou de súbito e para sempre, o vazio entrou naquela vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda. Prossigamos arrebatados, consolados e ajudados pelos nem tanto anjos, nem tanto humanos criadores desse primorosa fonocular-obra, até que lentamente se divise um pouco da eternidade..."

 

2 - Recém-disponibilizados três Videoclipes pinçados do álbum de Avant-Folk Circus-Museum. As byronianas"Stanzas for Music"; numa intrigante parceria com A. Crowley: "Elegy"; e, a partir de Cocteau e Steiner, "Dark Satanic Mills". Concepção, edição, direção e produção de O.M.
 

3 - Do álbum Desiderium, voltado à Música Popular Brasileira, podemos testemunhar "Oracíon por El-Amor-Brujo". Obra de roteiro peculiar; suscitando, talvez, o Eterno Retorno nietzscheano. Inquietante estéticafantasmática a incensar Andrei Arsenyevich Tarkovsky.
 

4 - Videoclipe (ou Surreáudio Videxperimento) da peça sonora "Marienbad" (fragmento) de Otacílio Melgaço | Álbum Marienbad (dedicado a Erik Satie) | Concepção, edição, efeitos, direção: O.M. [Baseado em ´La Coquille et le Clergyman´ de Germaine Dulac / 1928] | i Equipar-se com Clarividência! ii Moderadamente, lhe rogo!! iii Um pouco Cálido!!! iv Muito Turco!!!! (ou, se preferir, Turquesa.....) | Perpetuum mobile "com um profundo olvidar do presente" ou ...et son Double..
 

5 - "She Was A Phanto.m. Of Delight" | Música de Otacílio Melgaço / Poesia de William Wordsworth | all rights reserved | Criação, direção, montagem e produção da obra audiovisual: Otacílio Melgaço | Banda: Baal des Quat'z'arts | Integrantes: O.M. & Convidados | Composição, Arranjos, Pós-Mixagem: Otacílio Melgaço | Peça gravada ao vivo em Ottawa, Canadá | "She Was...": Terceira faixa do Lo-Fi EP "Island in the Moon".
 

6 - Ganha "She Was A Phanto.m. Of Delight" uma segunda versão. Peculiares filigranas da tipicidade detalhista do diretor foram acrescidas.

 

7 - Três registros ao vivo de sua banda Baal des

Quat´z´arts foram ´videoartisticizados´ por O.M. No palco, Otacílio Melgaço & Convidados: Pietrus oiticica e Indra d`Es. Imagens não-oficiais originalmente captadas por David Dioli. "Witch Wife " (autores da canção: Otacílio Melgaço/Edna St. Vincent Millay); "Das Tagebuch" Versão I (autor da peça sonora: Otacílio Melgaço); "Das Tagebuch"

Versão II (autor da peça sonora:

Otacílio Melgaço).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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