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Do Nome

(ou

 

​

A Dança da Noiva ao Ar Livre...)


 

 

 

Para os surrealistas a colaboração e o trabalho coletivo eram importantíssimos. O próprio nome do movimento surgira em conseqüência de dois momentos separados de colaboração (ballet e peça teatral) e os seus elementos praticavam os mais variados processos de colaboração. Entre eles, inventaram um jogo verbal e visual a que deram o nome de "cadavre exquis" ou cadáver extraordinário, cujos resultados eram muitas vezes publicados no "La Révolution Surréaliste". O objetivo do jogo era surpreender o consciente e desenhar imediatamente a partir da imaginação liberta. Este jogo consistia em reunir várias pessoas em círculo. Uma folha de papel passava de mão em mão. O primeiro jogador escrevia ou desenhava no canto superior da folha, fazia uma dobra sobre esta inscrição que ficava assim tapada e a folha era passada ao jogador seguinte, que, por seu turno, escrevia e dobrava de novo a folha. O jogo continuava até que todos os jogadores tivessem escrito ou desenhado qualquer coisa. Quando se desdobrava a folha aparecia um texto ou um desenho revelador do automatismo, que existe na criatividade, através das intervenções ocasionais de cada um deles. Por vezes, até a escolha do título para uma obra era feita por um processo semelhante. Pode considerar-se também este jogo como um exemplo do intercâmbio contínuo entre a poesia e a pintura, que é uma das características do Surrealismo inicial.

(GrupoI Adriana Pereira Monteiro Anderson Diocesano da Silva Ângela Cristina A. S. Pereira Emília Ramanhol Alvim Giceli Vieira Neves Heidy Fátima Ávila Grupo 2 Iraci Correira das Chagas Oliveira Jacqueline Pinto Moura Laiza Rocha Texeira Lenita de Assis Coelho Marize Ferreira de Oliveira Grupo3 Nelson Pereira Xavier Neuriel Alves de Oliveira Filho Sônia Regina Paraguassu Ribeiro Taíse Cardoso de Farias Viviane Sardinha Caldas)

 

Aí é que entram os curiosos Cadáveres elegantes (Cadavre exquis), onde um artista produzia uma parte de um desenho e passava-o adiante para outros continuarem. Tratava-se de um jogo surrealista de incorporação de acidentes e desvios.

(Luiz Camillo Ozório)

 

André Breton procurou Freud pessoalmente e este lhe disse que o que os surrealistas faziam não tinha nenhuma vinculação com a psicanálise. Os surrealistas, que reivindicavam a psicanálise como seu fundamento, tinham uma brincadeira denominada le cadavre exquis (literalmente “o cadáver delicioso”), que consistia no seguinte: um fazia um rabisco e passava para o outro, o qual acrescentava alguma coisa, e em seguida passava para o seguinte. Assim, o papel ia passando de um a um do grupo e, no final, surgia um quadro que era um “cadáver delicioso”. Tratava-se de um jogo surrealista, dentre outras atividades, inspirado, segundo eles, pela psicanálise, pela associação livre, ou seja, uma associação livre de traços e pinceladas. A escrita e a pintura automáticas são atividades inspiradas pelas idéias de Freud.

(Antonio Quinet)

 

Ideologicamente, os surrealistas portugueses colocaram-se, portanto, em franca oposição ao regime salazarista, opondo-se drasticamente aos valores da ditadura, tais como religião, pátria, autoridade, família e trabalho, os chamados Valores de Braga. A resistência dos surrealistas se dava no âmbito de sua práxis, seja por meio de panfletos contra o regime, seja durante atividades como os jogos coletivos, entre eles o cadáver-esquisito. A tradução do nome desse jogo, cadavre exquis... (no original em francês, para a língua portuguesa, é curiosa, pois figura nos livros sobre o surrealismo, tanto no Brasil, quanto em Portugal, como cadáver-esquisito. Todavia, ao vocábulo exquis não se poderia atribuir tal tradução, os termos correspondentes seriam delicado, maravilhoso, agradável)

...e jogo de pergunta-resposta - que consistia em se fazer uma pergunta a qual o interlocutor não ouvia, respondendo o que bem quisesse.

(Anderson da Costa Dra. Marie-Hélène Catherine Torres - Orientadora)

 

(Jacques Prévert) ajuda a criar o "cadavre exquis", atividade que consistia em produzir um texto coletivo em que cada participante continuava um texto, acrescentando uma parte da frase sem saber o que vinha antes, daí resultando em criações livres de qualquer associação lógica. No primeiro texto, Prévert escreveu "le cadavre exquis", em um papel dobrado e o passou a um outro participante que, em segredo, prosseguiu acrescentando "boira"; um terceiro, nas mesmas condições, concluiu o jogo e o texto com "le vin nouveau".

 (Eclair Antonio A. Filho)

 

VIDE Do Cotejo Cadavre Exquis / Anarquismo

 

O mesmo surreal princípio que engendra 'cadavre exquis' torna-se célula-mãe de nosso modus faciendi. Daí a irresistível, irrescindível sinonímia estabelecida por mim. Analogia faço com o Butô que se baseia na idéia do Corpo Morto. Corroboro A. Gothz a nos relatar que 'Hijikata costumava observar uma galinha que, depois de ter sua cabeça cortada, continuava se movendo durante um certo tempo. Desse modo, a morte vem com o fim do comando cerebral. Mas os movimentos do corpo não partem só do cérebro, há processos que continuam, conquistando pequenas existências de outra qualidade, ainda que temporariamente, após a morte. O corpo morto do Butô, a base verdadeira dessa forma de expressão artística, sugere que os movimentos brotem segundo sua própria vontade e as leis de seu próprio mundo buscando a energia diretamente do 'ventre materno', quando ele ainda não foi exposto ao contato com o mundo exterior e fazendo brotar de lá sua energia vital. É a forma sem forma, o conteúdo sem conteúdo, o cheio dentro do vazio, o nulo que é válido.' Ou seja, brado uma outra forma, um outro conteúdo, outro sentido de vacuidade e de plenitude. 'Idéias próprias, sem correspondentes e equivalentes no mundo exterior', a não ser no que habita nossa dentridão...(outra sinonímia?).  

 

Vis-à-vis: do Japão às vísceras brasílicas... Por meio de livres associações, recorreria, concomitante, a Lévi-Strauss, à ritualidade locomotriz dada pelos povos indígenas ao processo de transmutação que tem, como posso dizer?: le cadavre comme fragment? 

À medida que tendo a eclipsar, aqui e agora, Butô e antropologia de Claude, retomo o aquém do pensamento e além da sociedade: na contemplação de um mineral mais belo que todas as nossas obras; no perfume mais sábio que os nossos livros, respirado no âmago de um lírio; ou no piscar de olhos, cheio de paciência, serenidade e perdão recíproco que um entendimento involuntário permite, por vezes, trocar com um gato...ou um cão.

 

Fragmento de Lúcia Castello Branco em 'A Teoria do Duplo' sobre Sá-Carneiro: Radicalmente distinto do sujeito cartesiano (essa 'coisa pensante', como entendia Descartes) e diferente também do sujeito psicológico (que coincide com uma certa concepção do eu pleno, íntimo, interior), o sujeito para a Psicanálise, é sem essência, sem intimidade: extimo, esse sujeito ex-siste a partir do acontecimento e não como causa deste.

 

No caso do Combo CadavreXquis, leia-se Música como Acontecimento. E é apenas na instância do discurso que podemos vislumbrá-lo, através do jogo de significantes que o engendra. 'Um significante é o que representa o sujeito para um outro significante', dirá Lacan. Sabe-se, a partir de então, que o sujeito é entendido, não como aquele que causa, mas como o que é causado, como o que é assujeitado à linguagem.

Leia-se: Música como (nossa) linguagem. Nós: os assujeitados, os causados, elegantes cadáveres perdidos em um Jardim-das-Delícias, talvez: ensemble dos 'eus-amortalhados', libertos...

 

Ainda Lacan: 'O próprio eu é um dos elementos significativos do discurso comum, que é o discurso do inconsciente. Como tal, como imagem, ele está preso na cadeia dos símbolos. É um elemento indispensável da inserção na realidade do sujeito, ele está ligado a esta hiância primitiva do sujeito. Nisto, em seu sentido original, ele é, na vida psicológica do sujeito humano, a aparição mais próxima, mais íntima, mais acessível da morte.'

Cadáveres adiados que procriam? Non!? Nonada!! No constante (até quando?) cúmulo de minha sobriedade, menos à la Pessoa, mais à Baudelaire, 'EMBRIAGAI-VOS... É necessário estar sempre bêbedo. Mas - de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis. E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão de vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhe que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder: - É a hora da embriaguez! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude,' e mais: de Música!, 'como achardes melhor.'

Le Cadavre Exquis boira le vin nouveau!

(Otacílio Melgaço)

 

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