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SINFONIA BRUMARIANA / OTACÍLIO MELGAÇO

Sinfonia brumariana
Composição, arranjo, execução:
Otacílio Melgaço

p r i m e i r o movimento - terra|terra
s e g u n d o movimento - terra|água
t e r c e i r o movimento - terra|fogo
q u a r t o movimento - terra|ar

duração: 44:00

>>link para a apreciação
da peça musical: aqui
<<

Registro sonoro feito por OM.

capa: arte gráfica de O.M. a partir de tríptico do pintor/gravador brabantino, nascido em 1450, hieronymus bosch;
"O Jardim das Delícias Terrenas".

>>Vê-se o triádico quadro fechado.
Representa o globo, com a Terra
em uma esfera transparente, símbolo,
segundo Tolnay, da fragilidade do universo.
Há apenas formas vegetais e minerais,
não há animais nem pessoas. Está pintado originalmente em tons grises, branco e preto, o que se corresponde a um mundo sem o Sol nem a Lua embora também seja uma forma de conseguir um dramático contraste com
o colorido interior, entre um mundo antes do homem e outro povoado por infinidade de seres. Tradicionalmente, a imagem que amostra o tríptico cerrado interpretou-se como o terceiro dia da criação. O número 3 era considerado completo, perfeito, já que
em si mesmo encerra Princípio e Fim. E aqui,
ao se fechar, transforma-se, no círculo, em 1: de novo nos permite vislumbrar o Absoluto e, talvez, a trindade divina. No canto superior esquerdo, uma pequena imagem de Deus,
com uma tiara e Bíblia sobre os joelhos. Na parte superior pode-se ler a frase, extraída do salmo 33, IPSE DIXIT ET FACTA S(OU)NT / IPSE MAN(N)DAVIT ET CREATA S(OU)NT, que significa
"Ele o diz, e todo foi feito. Ele o mandou, e tudo foi criado". Outros, ao longo da história, interpretam que pudera representar
a Terra após o dilúvio.<<



apontamentos
sobre a
creação

<<´brumariana´
é um termo cunhado por mim e que nos traz a confluência lexical de ambas catástrofres tão incisivas às vísceras e veias mineiras.
>>vide: das barragens rompidas<<

idealizações e princípios tomaram como norte: uma leitura sinfônica sob as asas da contemporaneidade, tanto concepcionalmente quanto
em polpas e condutos adotados.

Voltei-me a uma perspectiva mais
em substancialidade terrenal
do que territorial. Como
seria portanto transplantar em solo sonoroso: prismas
que partissem dos fenômenos terrestres ali transcorridos
- e em literalidade! -.


[composicionalmente há um paralelo inexorável, indelével: se são camadas geológicas as em conotação sônica aqui, o quádruplo esqueleto que é erigido em tal brumariana oeuvre, espelha estratos, crostas, sedimentos
de audíveis proles
estilístico-melgacianas,
em franco cinetismo
e híbrido acasalamento.]

se
as causas e
efeitos das calamidades que
assolaram mariana e brumadinho, respectivamente partiram de
mãos humanas para depois estrangular não somente vidas de seus semelhantes mas igualmente
de complexos biomas sequenciais,
a polissemia polifônica. que é conteúdo do continente aqui sinfoniado: tudo abarca.

No entanto, a mim foi
necessário ir além de hominal epicentro (sob a face de holocáustica negligência e
de diluvioso morticínio).

imprescindível foi desembocar
os movimentos sinfônicos naqueles dos próprios (distopizados) solos!

quadruplamente terrenais em
âmago. porém, gradativamente, incorporando locomoções
de rompedura, rebentação,
ruptura, rotura; deslocamentos
do extravasar, subterrar,
aterrar, enterrar.


terra|terra, primeva; intocada
em coreografia tectônico-visceral sob equilíbrio - in natura -.


terra|água, pululam indícios de paulatina distorção alheia, imposição de certo
parasitarianismo hominal
e aqui, sob a metáfora
líquida que demove, arreda,
desarticula, desconjunta.


terra|fogo, aponta
ao processo-em-si d´arrebentação;
despedaçares contínuos invocando
o inferno móvel que tudo absorve, abocanha, rumina e metaboliza em cataclismo, calamidade, hecatombe.


terra|ar, pós-apocalíptico,
dúbio epílogo...tanto a revelar
a máscara enlameada, alodaçada, uliginosa de dramáticos sepulcros quanto cada quem-e-o-quê regenesiacamente resistiu e
(re)existe. a reivindicar sobrevida,
apesar ou exatamente porque persiste perante o humano
- demasiadamente humano -
desjuízo final.>>


(Otacílio Melgaço)







POST SCRIPTUM
Você está convidado a visitar outra obra
de
O.M. visceralmente ligada ao mesmo tema:
Ant​í​fona Brumariana (Pe​ç​a  para  Coral  e  Órg​ã​o)

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