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"Denominarei 

Artista/Obra = Alfa (A) 

Processo de Criação/Público = Ômega (W)

I- Induzir, minuciosamente planejar a defrontação entre A e W (ou a situabilidade de A por W) pois, em princípio, nada deverão ter que os ligue um a outro. Ambicionar conluio progressivamente imposto, como uma espécie

de condenação ou castigo;

II- Cultivar a plausibilidade alucinatória  através de domínios platonista e epicurista; enaltecer, a exemplo da religiosidade gozosa de Santa Teresa d'Ávila, a perspectiva inebriante

das dominações demiúrgicas; 

III- Procurar ressaltar tendências hostis entre A e W;

IV- Privilegiar a castidade ou a abstinência hiperalegóricas

na relação pretendida;

V- Excitar a imaginação incessantemente como em onanismo incontrolável, frenético;

VI- Necessitar-se-á de um número variável de acareações  (inseridas em microscópica processualidade) para que seja forjado nosso...beabsichtigten Zauberei!;

VII- Remunerar a máxima nudez - megametonímica! -

em corrente confronto;

VIII- Instituir cerimonial rigoroso: palavras ou quaisquer tactibilidades: abolidas. No caso do Artista e seu veio de criação: atinge-se a concreção somente após cumpridos todos os ditames protocolares ainda, aqui, em andamento descritivo; 

IX- Transcender o encontro preliminar: posteriores pelejas serão graduadas com o fim de despertar

e incitar desiderios nascentes;

X- Regredir na direção do desestímulo físico; relações retrocedem. Assim, entrar em ‘nova fase de idealização’;

XI- Revestir, recobrir o decantado état-de-nudité dos protagonistas. Indumentariá-los para que a crueza da lascividade anteriormente excitada

seja apaziguada implacavelmente;

XII- Tornar o defrontamento: prenhe de pureza, invólucro de sentimentos delicados, ungidos e mesmo humildes; 

XIII- Deixar com que ambos (A e W) fiquem reféns do máximo hermetismo, a sós, face a face, cobertos por metafóricos, semióticos véus que, por sua riqueza,

sugerirão suntuosos trajes nupciais;

XIV- Manter-se em completa imobilidade;

XV- Estimular a hiperestesia emotiva. Tal fricção tem

a mesma fonte medular do prazer;

XVI- Proibir a precipitação à satisfação do desejo de quaisquer (inter)penetrações palpáveis. Impedir que cedam a impulsos passageiros, a exaltações que se voltariam

a apreensões meramente efêmeras;

XVII- Condenar a promiscuidade orgiástica! Facil cosa è farsi universale!  Isso se dará, em suma, ao longo do Processo Ultracledalista: desejo inicial quase inexistente a ser cultivado, levado à ascensão por uma série de cristalizações de seu estado confuso de murmúrio sentimental para os frios esplendores da estética, que são diferentes das confusas misturas da ‘carne’ fenomênica (som, palavra,

imagem, matéria etc);

XVIII- Por fim, tal sorcellerie nos/os levará ao orgasmo artístico exuberantemente almejado! No caso do Engendrador e a perspectiva de sua Prole: após, exclusivamente após tal acme-do-ato (ou antiato?) ultracledalista se dará (ejaculatio retardata?) o parimento! Há de se destacar a perversão imposta ao longo da sistemática aqui incensada. Tal como poetizara nosso paranymphu, uma paixão com degraus de sofrimento que levam aos patamares das expectativas de incertezas, com bancos para sentar e esperar na soleira do portão do desejo, colunas de angústia, capitéis de ciúme entalhados de folhas de acanto, reticências sob a forma de frontões quebrados, sorrisos redondos e calmos como balaustradas, criptas, cúpulas de êxtase encantado..."

 

(Otacílio Melgaço)

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