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C  L  E  D

O  N  I  A

F  R  U  S

T  A  T  A

 

 

 

"Da Mulher que almejo, 

eu a enfeitarei para torná-la resplandescente, 

para deixá-la o mais extática! 

Nossas salivas formarão

um filtro afrodisíaco. 

Nossas línguas, sexos exacerbados. 

Nossos dentes se chocarão

com força como escudos, 

mas essas barreiras só conseguirão excitar nossos desejos. 

Gostarei de mergulhar

no fundo dela para 

lamber, comer, rasgar suas carnes. 

E morder seus lábios com violência 

até o ponto em que o gosto de sangue

me enchesse a boca 

e que eu pudesse sugar este fluído

mais doce que o mel. 

Tornar-me-ei vampiro, tornar-me-ei feroz, 

cairei num abismo de prazer inaudito. 

Assim me tornarei Amante."

(Salvador Dali,

adaptação: O.M.)

(d)o

Ultracledalismo®

de/por

otacílio Melgaço

 

"Você acredita que para os efeitos fisiológicos do amor o orgasmo deve necessariamente ocorrer simultâneo para os dois parceiros?

 

Não creio que seja uma condição essencial, apesar de muito desejável. No entanto, toda a ortodoxia do amor físico desde a antiguidade parece girar em torno desse único ponto. Alguns hábitos muito difundidos na Idade Média estabelecem isso como objetivo final da arte do feiticeiro no reino do amor.

 

Você se refere aos fenômenos dos sortilégios amorosos?

 

Isso mesmo, estou pensando nessas crenças, tidas como dogmas durante vários séculos, na possibilidade de empregar processos mágicos para induzir o amor entre duas pessoas intencionalmente escolhidas por nada terem que as ligue uma à outra. O amor lhes era progressivamente imposto, como uma espécie de condenação ou castigo.

 

Nem a psicologia moderna, nem certas descobertas recentes da biologia, parecem rejeitar totalmente esses processos mágicos.

 

Isso é verdade. Acabo de reler várias histórias que falam desses feitiços de amor, cujos processos e métodos, além de toda sua surpreendente beleza poética me impressionam como possuidoras de uma plausibilidade alucinatória. Começa-se por escolher o par destinado a se tornar amante, de preferência indivíduos que demonstrem tendências hostis. Não devem ser virgens, mas desde o momento da escolha, são mantidos em castidade, que não pode ser rompida até o fim. Depois de vários meses de abstinência carnal, durante os quais o corpo é alimentado com comidas e bebidas, na preparação das quais toda a ciência afrodisíaca das ervas, desde o tempo do antigo Egito toma parte, e sua imaginação é excitada incessantemente por histórias apropriadas, na maior parte tomadas de empréstimo de diálogos de amantes famosos e das máximas ardentes de Odoclirée, que une os amantes, então, e só então, ocorre o primeiro encontro do par para colocá-lo sob o feitiço. Para essa ‘apresentação’, eles devem estar nus, adornados apenas com jóias feitas com pedras e metais preciosos, escolhidos de acordo com a conjunção de seus horóscopos e outras influências favoráveis. Durante o decorrer desse encontro, para o qual se prescreve um rigoroso cerimonial, não se deve dizer uma única palavra, nem haver qualquer contato físico. Qualquer infração dessa proibição poderia prejudicar o êxito final do feitiço amoroso. Depois dessa cena preliminar, os encontros são graduados com arte refinada, para despertar e estimular os desejos nascentes. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, em lugar de progredir na direção das tentações físicas normais, suas relações apenas regridem. E então o curso de seu romance entra no que se poderia chamar de nova

fase de idealização.

 

A sublimação.

 

Depois do segundo encontro, a nudez dos protagonistas é quase completamente coberta por folhas entrelaçadas; no quarto encontro, aparecem vestidos, em indumentária suntuosa, e seus gestos, ainda que regulados de antemão, como num balé, em vez de serem cruamente lascivos como durante o primeiro encontro, tornam-se puros e expressam sentimentos delicados, unção e humildade à medida que caminham para

os estágios finais.

 

Compreendo que essa espécie de exibicionismo às avessas possa tornar-se um estímulo violento para os sentidos dos que forem sujeitos a tais cerimônias, a ponto de despertar neles um desejo totalmente cerebral com relação um ao outro. Mas será que esse terrível suplício de Tântalo de suas carnes tem algo a ver com o sentimento soberano e permanente do amor?

 

É claro que tem, ou, pelo menos, é o que os textos atestam, sob a condição de que o par atinja satisfatoriamente o fim de sua provação.

 

Que acontece quando, por fim, se completa a mágica? Qual

o objetivo final?

 

No fim, os dois amantes são deixados a sós, face a face, cobertos por véus que, por sua riqueza, sugerem suntuosos trajes nupciais. Ambos são atados, separadamente, aos ramos de uma árvore de murta, de modo não só a impedir o contato corporal mas também a mantê-los em completa imobilidade. Depois de algum tempo, se o feitiço teve êxito, o orgasmo ocorre simultaneamente nos dois amantes sem qualquer outra comunicação entre eles além das expressões faciais. E se afirma que esse fenômeno é quase sempre acompanhado

de lágrimas.

 

Essas lágrimas e a expressão dos rostos, com sua infinita capacidade de assumir matizes de sofrimento e prazer, são, sem dúvida, o que torna o homem diferente dos outros animais... Então é possível a consumação de uma grande paixão sem contato físico? Isso parece conduzir inevitavelmente a uma teoria do amor inteiramente nova, uma teoria que pode reunir as concepções de Epicuro e Platão numa única idéia.

 

De qualquer modo, é uma perversão

a considerar.

 

Ainda assim, você acredita seriamente que essa espécie de coisa seja possível a não ser para pessoas que tenham um estado de espírito extremamente sugestionável, criado por todo o complexo das crenças medievais?

 

Tem razão, tais estados de hiperestesia emotiva só podem ser obtidos na vida de hoje, criando-se monstros psicológicos... No entanto, a moderna psicopatologia nos presenteia, diariamente, com fenômenos da mesma ordem que os da feitiçaria, no serralho dos histero-epilépticos que enchem nossos hospitais. O arco histérico que curva instantaneamente o corpo feminino, numa contorção que, para pessoas normais, levaria semanas de aprendizagem acrobática a bem dizer, tem as mesmas origens espirituais, que os espasmos tão conhecidos desde Charcot, que permitem aos pacientes realizar prodígios de coordenação, dos quais são normalmente incapazes. As torrentes de lágrimas que as grandes atrizes são capazes de derramar à vontade, parecem produzir descargas nervosas que correspondem, sob todos os aspectos, às da verdadeira dor; aqui os limites do estímulo têm aparentemente a mesma fonte medular do prazer. O fenômeno do prazer, na verdade, apesar de mais independente de nossa vontade que as lágrimas, é tanto mais agudo quanto dissociado da ação mecânica e é produzido mais lentamente, realizado pelo que se poderia chamar de meios espirituais. Sei que a palavra ‘espiritual’ como a uso parece sem sentido e só pode provocar desprezo entre as mentes materialistas de nossa época. Mas a concepção geral do amor como nos foi apresentada desde o século XVIII me surpreende como uma aberração. A idéia de ‘amor à primeira vista’ é uma idéia bárbara que, em si mesma, é um sintoma sério de nebulosa decadência, de falta de contornos e detalhes, nos quais o ‘sonho’ da humanidade parece estar afundado. Quando se pensa nos egípcios, nos homens da Renascença, que podiam sonhar com obeliscos, com a alta geometria, com as proporções matemáticas que lhes permitiam continuar em estado de vigília a aplicação dos sutis problemas da estética arquitetônica que tinham resolvido na vida onírica, a falta de rigor dos sonhos dos nossos contemporâneos é um escândalo, e seus episódios oníricos mal se podem distinguir do desgraçado vaudeville de suas lamentáveis vidas diárias. Essa mesma falta de rigor também aniquila as paixões. Tão pronto dois seres se desejam, precipitam-se para satisfazer o desejo não importa como, onde e sob que condições, desajeitadamente, retorcendo os braços, sufocando um ao outro com a saliva, apenas para cederem a seus impulsos passageiros e a suas exaltações. Toda a experiência amorosa de minha vida condena e rejeita essa promiscuidade orgiástica! Exatamente como o poeta inspirado (‘o poeta é quem inspira e não quem é inspirado’, Paul Eluard) é incapaz de escrever belos poemas, o amante é incapaz de construir uma verdadeira paixão... Ao contrário, um desejo inicial quase inexistente pode ser cultivado, levado, por uma série de cristalizações de seu estado confuso de murmúrio sentimental para os frios esplendores da estética, que são diferentes das confusas misturas da carne. Quero construir uma paixão como uma verdadeira arquitetura, na qual a dureza de cada costela cante com a precisão de ângulos de pedra em cada um dos moldes dos sonetos das janelas paladinas, uma paixão com degraus de sofrimento que levam aos patamares das expectativas de incertezas, com bancos para sentar e esperar na soleira do portão do desejo, colunas de angústia, capitéis de ciúme entalhados de folhas de acanto, reticências sob a forma de frontões quebrados, sorrisos redondos e calmos como balaustradas, criptas, cúpulas de êxtase encantado..."

 

 

 

 

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