
ENCOMIUM
a
LuísGonzagaMelgaço
‘Wir hören’s oft und glauben’s wohl am Ende:
Das Menschensherz sei ewig unergründlich...’
“Franz Peter Schubert (1797-1828), compositor austríaco pertencente historicamente ao que chamaríamos de ‘romantismo semiclássico’ (sic), era tido como cultivador de vida boêmia, malsoante e 'inofensiva' porém, ao longo de graves crises de melancolia, foi depois desfigurada por lendas sentimentais, sem fundamento verossímil.
À propos, em derradeir'o Diário', Johann Wolfgang von Goethe - destarte irreprochável - alude: '...um axioma
de moral sã sempre vai bem: por mim, acato a tradição, dizendo: a soma de acertos e erros de um viver assim acidentado não é: ou-dá-ou-toma. Duas alavancas movem nossa sorte: uma o dever, outra o amor - mais forte!'...
Parte de suas obras é ligeira, propriamente presa de
um ‘vienense’ classicismo num sentido pejorativo; essas muitas marchas, danças, etc têm inspirado um conceito de Schubert como melodista fácil. A outra parte de
seu engendramento artístico – à qual livre referência
faço a Luís Gonzaga Melgaço, guardadas as devidas proporções, ponderações e contextualizações – é de
um compositor da maior importância, CABÍVEL sucessor
de Ludwig van Beethoven e, em certa acepção, precursor de Johannes Brahms. Schubert, que morreu tão cedo,
foi de fecundidade extraordinária. Muitas obras suas,
das mais importantes, só foram (re)descobertas e
publicadas decênios depois de seu falecimento, graças aos esforços de Robert Schumann. Juntamente com
Wolfgang Amadeus Mozart - Peter, para inúmeros críticos, é dos gênios musicais mais puros da história,
uma espécie de vidente, guiado por uma infalível intuição: ‘a obra denomina o homem e não pode explicar-se por ele’ (‘Ich bin in das fleish der stets bejaht’, tal idealidade é desconcertante!). Não obstante, o ‘lied’ é
o cerne de sua artística criação e é a mais alta expressão do seu gênio. Porque, se nos reportarmos
à literatura especializada, ninguém, talvez, cantou
num tom tão livre e tão natural... em tempo algum
as mínimas inflexões melódicas ou as bruscas
mudanças de luz corresponderam com tanta evidência
às mais sutis CORDIAIS palpitações, nunca se foi tão longe e com tanta simplicidade na expressão de um sentimento poético. Ali encontramos, pois, o toque de humanidade em que reconhecemos o eco de uma voz empaticamente mistagoga - como inesgotável demiurgia que renova incessantemente o nosso prazer pela
fecundidade de sua mais-que sacrária invenção.
A maior parte de seus biógrafos evoca o ‘Céu’ quando dele versa. Seu amigo Moritz von Scwind qualificava-o de ‘Louco Celeste’. Indago: a Loucura seria o paroxismo – vere dignum et instum est – de suprema Lucidez? Escreve Franz em seu diário: ‘A razão é apenas fé analisada’! Especulo: ao analisar racionalmente a obra de Luís Melgaço enveredamo-nos – desbravadoramente - pelas querências de uma fé condensada em seu quilate mais humanista. Antropomórfica visto que, ao habitar esteios tão íntimos dos Gerais, adquire o intrínseco patamar estilístico DIGNO – respectivamente pela
teluricidade e epifania - Dos compositores
universais e universalistas...
'Nur allein der Mensch, Vermag das Unmögliche'!
A ubiqua transeucaristia de João Guimarães Rosa, em sua poemática ‘Música de Schubert’, veredita, melgaceia: ‘Sombras de amores em bailado longínquo, num palco sem fundo como num fundo de espelho...´
‘Car tout ce je raconte, je l’ai vu: et j’ai pu me tromper en le voyant, bien certainement je ne vous
trompe en vous le disant...’
Deslocando-nos bruscamente ao século XX - após lapso diacrônico-schubertiano que mais aparentaria uma necessária ‘anamnese biobreviária’ -, vislumbro
a face ‘misteriosamente conspiratória’ de Olivier Messiaen (1908-1992). Avesso a analogias musicais - em sentido lato - para com a mineira personalidade que aqui destaco (pois descabidas seriam), ao pincelar meu portrait luisgonzagamelgaciano, como haveria de não ressaltar, NO ENTANTO, duas comungantes características de tais brasileiro e francês compositores?: a poética da escrita e o sonoro magnetismo neles exercido pelo canto dos pássaros.
O aclamado autor de ‘Quatuor pour la fin du Temps’, nascido MEIA DÉCADA após Melgaço –, manifesta-se:
‘O meu desejo secreto impeliu-me para estas espadas
de fogo, para estas estrelas inesperadas, para estas correntes de lava azul-laranja, para estes planetas de turquezas, estas violetas, estes carmesins de arborescências que lembram cabelos, para estes redemoinhos de sons e de cores confundindo-se com
arco-íris...’(!). Disse muitas vezes que encontrava
o ‘mel’ por toda a parte: o cantochão, o folclore,
Bach, músicas exóticas, os ruídos da natureza... Forneciam-lhe - selon mon plus secret conseil - os elementos de uma ‘síntese desconhecida’. Conciliando
a amplificação de noções antigas, regras universais
e princípios unificadores, Messiaen (um ‘encantador
das impossibilidades’) pleiteava a una feição da ‘artisticidade’ que somente uma silhueta transcendentalista poderia conceber.
Vejamos o símbolo de liberdade que está contido na ornitologia sonora de nossos Olivier e Luís. Defrontamo-nos com ruídos sublimes, frutos de milhares de séculos de adaptação fisiológica: um desafio aos laboriosos métodos de composição! Há, então, a acentuação da universalidade estilística que, dentre outros reflexos, resplandece uma infinitude de novos modos (melódicos, rítmicos, timbrísticos, etc). Entra em vigor um empirismo naturalista e hierático (doppelgängers?) visto que visa exatamente a ‘religadura’ fundamental entre ‘Homo
e Natura’. Por conseqüência, nota-se a confecção inequívoca e unívoca de uma ‘música cintilante,
dando ao sentido auditivo prazeres voluptuosamente requintados’. Referindo-me a Luís Melgaço, tais instâncias estariam encarnadas mais devidamente
em sua, em termos culturais, ‘espiritual família’ destarte desembocando numa perspectiva subjetivista
a respeito de seu composicional perfil. O pássaro e seu vôo são sinônimos de presságio, pontificação entre céu e terra. Instrumento, por conseguinte, da schubertiana ‘Loucura Celeste’ verbalizada pelo já citado Moritz? Sabe-se que O CONCEITO DE IMORTALIDADE, no taoísmo, SE VALE DA forma de aves para NOS REMETER À leveza,
À liberação do ‘peso’ terrestre: O levantar
do extasiado vôo d’alma!
‘Ehdenaç’cerátal’mustaquim...’
Buscariam ambos músicos o poder mAgicIZADO de com
o ‘Numinoso’ se comunicar? Ibn Haldun define
a ornitomancia como ‘a faculdade de falar do desconhecido que desperta em algumas pessoas, com
a visão de um pássaro que voa ou de um animal que passa, e de concentrar seu espírito, depois que desapareceram. É uma faculdade da alma que suscita uma compreensão rápida, pela inteligência, das coisas vistas ou escutadas, matéria para o presságio...’...
Messiaen e Melgaço, cosmogônicos, vislumbraram (licença peço para cultivar o quinhão místico do que aqui anseio conotativa, metaforicamente)
o enobrecimento do Espírito humano – o(r)n(i)tológica, imanentemente – como se tal ‘voasse à Árvore do Mundo’, para até lá rumar as ‘almas-pássaros...’.
Em sua ‘Galera de Velas Negras’ para Canto e Piano (dedicada à Cantora brasileira Maura Moreira, com poesia de Nilo A. Pinto), Luís Melgaço nos faz ultramarinos: ‘Galera de velas negras, que luto levas no mar? Seria o da bela infanta que dorme no seu solar o sono que o bem amado dormiu nas algas do mar? A noite que vais levando seria a do seu pesar? Galera
de velas negras, que luto levas no mar? Além, que
reino procuras, que vais n’um frio luar, tangida pelos lamentos dos ventos doidos do mar? Anseias pelo silêncio do porto que vais buscar? Galera de velas negras, que luto levas no mar? Acaso, a paz que desejas, razão do teu velejar, será mais vasta que
a noite? Será mais funda que o mar? Que desespero carregas, que nem me podes falar?! Galera
de velas negras, que tu levas no mar?’.
E eu, perante viscerais e ondulantes indagações, peroraria por meio de madredivina voz: ‘Não é
nenhum poema o que vos vou dizer/Nem sei se vale
a pena/Tentar-vos descrever/O Mar. E eu aqui fui
ficando só para O poder ver/E fui envelhecendo sem nunca O perceber/ O Mar.’ Contudo ‘Porto calmo de abrigo/De um futuro maior/Porventura perdido/No presente temor/Não faz muito sentido/Não esperar
o melhor/Vem da névoa saindo/A promessa anterior/Quando avistei ao longe O Mar/Ali fiquei/Parado a olhar/Sim, eu canto a vontade/Canto
o tempo a passar/Quando avistei ao longe O Mar/Ali fiquei/Parado a olhar/Quando avistei ao longe
O Mar/Sem querer, deixei-me ali ficar...’...
Montanhosa Minas, Marejado Luís.
‘O mineiro é velhíssimo, é um ser reflexivo, com segundos propósitos e enrolada natureza. É uma gente imaginosa pois que muito resistente à monotonia. O mineiro traz mais individualidade do que personalidade. Sabe
que agitar-se não é agir. Sente que a vida é feita
de encoberto e imprevisto, por isto aceita
o paradoxo. Não tem audácias visíveis. Tem
memória longa. Ele escorrega para cima.
Só quer o essencial, não as cascas. Sempre freqüentado pelo enigma, retalha o enigma em pedacinhos, como quando pica seu fumo de rolo, e faz contabilidade
da metafísica: gente muito apta ao reino dos céus.’...
Genesíaco, Guimarães Rosa – ‘eternalteretorno’ –
ao descrever a mineiridade – e seu avatar –
dá à luz, em (trindádiva-manjedoura) integritas/consonantia/claritas,
UMA DAS MAIS perfeitaS definiçÕES
dE ‘melgacidade’...
Marejada Minas, Montanhoso Luís.”
p o r
O t a c í l i o
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