
"Vem, antiqüíssima e idêntica, Rainha
nascida destronada, igual por dentro ao silêncio.
Com as estrelas lantejoulas rápidas no teu vestido franjado de
Infinito. Vem vagamente, levemente, sozinha, solene, vem e traz os montes
longínquos para ao pé das árvores próximas, funde num campo teu todos os campos que vejo, faze da montanha um bloco só do teu corpo, apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo, todas as estradas que sobem, todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe, e deixa só uma luz e outra e mais outra, na distância imprecisa e vagamente perturbadora, na distância subitamente impossível de percorrer. Nossa Senhora das coisas impossíveis que procuramos em vão, dos sonhos que
vêm ter conosco ao crepúsculo, à janela, dos propósitos que nos
acariciam, vem e embala-nos, vem e afaga-nos, beija-nos silenciosamente
na fronte, tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
senão por uma diferença na alma e um vago soluço partindo melodiosamente do antiqüíssimo de nós onde têm raiz todas as árvores de maravilha cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos... Vem, soleníssima, porque a alma é grande e a vida pequena. Vem, dolorosa, Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos, mão fresca sobre a testa e a febre dos humildes, sabor da água sobre os lábios secos dos Cansados. Vem, lá do fundo do horizonte lívido. Folha a folha lê em mim não sei que sina e desfolha-me para teu agrado, para teu agrado silencioso e fresco. Uma folha de mim lança para o Norte, onde estão as cidades de hoje que eu tanto amei; outra lança para o Sul, onde estão os mares que os Navegadores abriram; outra folha minha atira ao Ocidente, onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro, que eu sem conhecer adoro; e a
outra, as outras, o resto de mim atira ao Oriente, ao Oriente donde vem tudo,
o dia e a fé, ao Oriente pomposo e fanático
e quente, ao oriente excessivo que eu nunca verei, ao Oriente budista, bramânico, sintoísta, ao Oriente que tudo o que nós não temos, que tudo o que nós não somos, ao
Oriente onde – quem sabe? – Cristo talvez ainda hoje viva, onde Deus talvez existe realmente... Vem sobre os mares, os mares maiores, sem horizontes precisos, vem e passa a mão pelo dorso de fera, e acalma-o misteriosamente, ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito.
Vem, ó Melgaço, cuidadosa, maternal, pé ante pé enfermeira antiqüíssima,
que te sentaste à cabeceira dos deuses das fés já perdidas, e que viste
nascer Jeová e Júpiter, e sorriste porque tudo te é falso e inútil. Vem,
silenciosa e extática, vem envolver na noite manto branco o meu
coração... Serenamente como uma brisa na tarde leve, tranqüilamente
como um gesto materno afagando, com as estrelas luzindo nas tuas mãos e a luz máscara misteriosa sobre a tua face. Todos os sons soam de outra maneira quando tu vens. Quando tu entras baixam todas as vozes,
ninguém te vê entrar. Ninguém sabe quando entraste, senão de repente,
vendo que tudo se recolhe, que tudo perde
as arestas e as cores, e que no alto céu ainda claramente azul já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem, a lua começa a ser real.”
(interferência de Otacílio Melgaço em, Fernando Pessoa/Álvaro de Campos)
P R Ó L O G O
“Ditoso aquele que em si só se encerra
e, estimando o tesouro
que em si tem, pisa soberbamente toda
a terra.
Eu desta glória só fico contente: que a minha terra amei, e a minha gente.
E, quando Amor nasceu, nasceu ao Mundo vida...”
(Antônio Ferreira)
“Mal vai à obra se lhe requerem prefácio que
a explique, mas vai ao prefácio se presume de tanto. Acordemos, então, que não é prefácio isto, mas aviso simples ou prevenção, como aquele recado derradeiro que
o viajante, já no limiar da porta, já postos os olhos no horizonte próximo, ainda deixa a quem lhe ficou
a cuidar das flores. Diferença, se a há, é não ser aviso último, mas primeiro. E não haverá outro: HISTÓRIA É RESSURREIÇÃO, invoca
a encantatória desmesura micheletiana pois
a verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos...
Resigne-se pois o internauta a não dispor deste eletrônico sítio como de uma guia às ordens, ou roteiro que leva pela mão, ou catálogo geral. Às ‘conexões’ adiante não
se há-de recorrer como
a agência de viagens ou balcão de turismo: o autor/compendiador não veio dar conselhos, embora sobreabunde em opiniões. É verdade que se acharão lugares selectos da paisagem e da arte, a face natural ou transformada da terra portuguesa: porém não será forçadamente imposto um itinerário, ou orientado habilmente, apenas porque as conveniências e os hábitos acabaram por torná-lo obrigatório a quem de sua casa sai para conhecer o que está fora. Sem dúvida, o autor/compendiador foi aonde se vai sempre, mas foi também aonde se vai quase nunca.
Que é, afinal, o sítio que um prefácio possa anunciar com alguma utilidade, mesmo não imediata em primeiro atendimento?
Esta Viagem a Melgaço (por Melgaço) é uma história. História de um viajante no interior da viagem que fez, história de uma viagem que em si transportou um viajante, história de viagem e viajante reunidos em uma procurada fusão daquele que vê e daquilo que é visto, encontro nem sempre pacífico de subjetividades e objetividades. Logo: choque e adequação, reconhecimento e descoberta, confirmação e surpresa. O viajante no seu país? Isto significa que viagem por dentro de si mesmo, pela cultura que o formou e está formando, significa que foi um espelho reflector das imagens exteriores, uma vidraça transparente que luzes e sombras atravessaram, uma placa sensível que registrou, em trânsito e processo, as impressões, as vozes, o murmúrio infindável de um povo.
“Os momos, os serões de Portugal tão falados no mundo, onde são idos
e as graças temperadas do seu sal?
Dos motes o primor e altos sentidos, os ditos delicados cortesãos
que é deles, quem lhes dá somente ouvidos?”
(Sá de Miranda)
Eis o que este sítio quer ser. Eis o que supõe ter conseguido um pouco. Tome o leitor os ‘elos’ seguintes como desafio e convite. Viaje segundo seu projeto próprio, dê mínimos ouvidos à facilidade de itinerários cômodos e de rasto pisado, aceite enganar-se na estrada e voltar atrás, ou, pelo contrário, persevere até inventar saídas desacostumadas para o mundo. Não terá melhor viagem. E, se lho pedir a sensibilidade, registre por sua vez o que viu e sentiu, o que disse e ouviu dizer. Enfim, tome este eletrônico sítio como exemplo, nunca como modelo. A felicidade, fique o internauta sabendo, tem muitos rostos. Viajar é, provavelmente, um deles. Entregue as suas flores a quem saiba cuidar delas, e comece. Ou recomece... Nenhuma viagem é definitiva..."
(intróito livremente adaptado por O.M. da apresentação do livro
‘Viagem a Portugual’ do Nobel lusitano José Saramago)
D A V I A G E M
D O V I A J O R
ou
O C A M I N H O
É O C A M I N H A R
“Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem,
cordas e harpas, tímbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.
Na grande claridade melgacense do dia o sossego dos sons é de ouro também...”
(adaptação bernardosoaresiana)
Viajar deveria ser outro concerto, estar mais e andar menos, talvez até se devesse instituir a profissão de viajante, só para gente de muita vocação, muito se engana quem julga que seria trabalho de pequena responsabilidade, cada quilômetro não vale menos que um ano de vida. O viajante...tem os olhos cheios de paisagens passadas e futuras... Diante da largueza da paisagem, é como se asas tivesse. O viajante, de cada vez que dá com realidades assim, sente-se muito comprometido. Amanhã, chegando à cidade, lembrar-se-á destes casos? E se se lembrar, como se lembrará? Estará feliz? Ou infeliz? Ou tanto disto como daquilo? É muito bonito, sim senhores, pregar sobre a fraternidade dos peixes. E a dos homens? ...e há um profundo silêncio, um silêncio total, raro, angustioso, mas que é necessário a esta solidão, a este minuto inesquecível. O viajante vai-se embora dali, não pode ficar para sempre, mas afirma e jura que de uma certa maneira que nem sabe explicar, continua sentado na beira da estrada, a contemplar as árvores, a olhar esta primeira porta do paraíso. O viajante, que vem de paisagens agrestes e rudezas primitivas, tem de habituar-se outra vez à presença do trabalho transformador.
O mundo não está bem organizado. Já não é só a complicada história do que falta a uns e sobeja a outros, é, para este caso de agora, o grave delito de não se trazer a esta estrada todos os brasileiros, portugueses ou...de aquém e de além, para que nos seus olhos ficasse formidável impressão...
O viajante tem destes devaneios, e espera que lhos desculpem, porque
são de fraternidade.
Facilmente se compreende que o viajante vai em recordações de sua própria infância passada noutras terras, e dessa distracção acorda... O viajante consulta os seus grandes mapas, segue com um dedo decifrador o traçado das estradas, e faz isto lentamente, é um prazer de criança que anda a descobrir o mundo. Há mais que andar. Quando o viajante regressa à luz do Sol, é como se tivesse caído doutro planeta.
O viajante...ouve o duro pisar dos seus pés de pedra, e está com eles diante do altar das almas... O que lhe apetece é voltar aos grandes horizontes. O viajante cansa-se de comparações e faz uma última e definitiva, junta todos os arco-íris da sua vida, verifica que este é o mais perfeito e completo de todos, agradece à chuva e ao Sol, à sua preciosa sorte que o trouxe aqui nesta preciosa hora, e segue viagem. Quando passa debaixo do arco-íris, vê que lhe caem sobre os ombros tintas de várias cores, mas não se importa, felizmente são tintas que não se apagam
e ficam como tatuagens vivas.
O viajante gostaria que o rio da história lhe entrasse de repente no peito, e em vez dele é um pequeno fio de água que constantemente se afunda e some nas areias do esquecimento. A pedra, o chão, o céu que está por cima, e este vento que de rajada passa, sopro de todas as palavras portuguesas ditas, de todos os suspiros primeiros e finais, murmúrio do profundo rio que é o povo. O viajante não precisa de subir ao caminho de ronda para ver mais paisagem, nem à alta torre para ver mais paisagem ainda. Sentado nesta pedra que os passos calçados ou descalços não gastaram, compreende tudo, ou assim julga, e isto lhe basta, ao menos hoje.
O viajante é homem muito agarrado à esperança.
Faz com que definitivamente acreditemos na possibilidade que o homem
afinal tem de viver entre a beleza.
Justifica a celebração de novas peregrinações para virem aprender os que têm ofício de buscar perfeição. Talvez aqui se consolidem fés. Que neste lugar se consolidariam razões para confiar na permanência da beleza, disso
não duvida o viajante.
É bem certo, porém, que quando alguém foge aos cuidados do mundo, são os cuidados do mundo que o procuram. Não havia esfinge, mas estava ali o enigma. E quando, depois de subir a estrada do outro lado e terminar a jornada, torna olhar o mundo, acha que tem direito a isto, apenas porque é um ser humano, nada mais.
Tem o viajante, quem diz este, diz outro, a boa justificação de ser de belezas e grandezas a sua busca. O silêncio, neste lugar, é total. E não se vê vivalma. De duas uma: ou o mundo vai acabar, ou vai começar o mundo. Ninguém é viajante se não for curioso. Aquele portão entreaberto, o silêncio, o lugar ermo... Espreitou para dentro, e, como se de repente tivesse entrado num sonho, já entrou. Avança mais alguns passos, anda por ali...e lá está a janela iluminada, certamente, oh certamente, o quarto da Bela Adormecida, habitante única deste lugar misterioso. Passou um minuto, ou uma hora passou, não se sabe, a luz é apenas um resto, mas a noite não ousa avançar, dá tempo para voltar às árvores e ao tapete de folhas murchas, ao restolhar que os pés fazem, ao jardim pequenino, ao perfume da terra. O viajante saiu. Cerrou atrás de si o portão como se fechasse um segredo.
O viajante pensa que ainda bem que a natureza pode libertar-se alguns dias da presença dos homens, entregar-se ao seu natural... O viajante...verá com os olhos da lembrança...o reflexo de tudo isto na superfície incomparável, e então dentro de si se fará o grande silêncio dos ares, das altas nuvens, o necessário silêncio para poder murmurar, como se fosse essa a sua única resposta: ‘Eu sou.’ Que a natureza seja capaz de tanto permitir a um simples viajante...
O viajante...agora é um solitário que vai à descoberta do que, a partir deste dia, ficará sendo, no seu espírito, o castelo da atmosfera perfeita, o mais habitado de invisíveis presenças, o lugar bruxo, para dizer tudo em duas palavras. Dividido entre a luz e a sombra, adeja um silêncio sussurrante. É este conjunto de edificações em ruínas, o elo misterioso que as liga, a memória presente dos que viveram aqui, que subitamente comove o viajante, lhe aperta a garganta e faz subir lágrimas aos olhos. Não se diga daí que o viajante é um romântico, diga-se antes que é homem de muita sorte: ter vindo neste dia, nesta hora, sozinho entrar e reter esta presença do passado, da história, dos homens e das mulheres que neste castelo viveram, amaram, trabalharam, sofreram, morreram. O viajante sente...uma grande responsabilidade. Por um minuto, e tão intensamente que chegou a tornar-se insuportável, viu-se como ponto mediano entre o que passou e o que virá. Experimente quem o lê ver-se assim, e venha depois dizer como se sentiu. Calhando, voltará o viajante um dia a essas e
outras portas que ficaram pelo caminho...
Vai o viajante fazendo essas descobertas, e de repente repara que leva um rio ao lado. É o rio Mel, torrente que lá ao fundo corre e espuma nas pedras, apertado entre encostas de socalcos verdes, casas trepadoras, árvores que chegam mais longe na subida, pedras que rematam e bordam o céu azul. Este rio Mel é um formoso lugar da Beira, um formoso lugar do mundo. Julga o viajante que sabe de rios, Tejo para aqui, Douro para acolá, Mondego banha Coimbra, o Sena atravessa Paris, Tibre é romano, São Francisco é prole dos Gerais e afinal há um rio de nome doce, uma beleza de água correndo, uma frescura do ar, verdes canteiros amparados por muros de xisto, pudesse o viajante e ficaria aqui sentado até a noite chegar.
As marés vieram e deixaram seus salvados. Para tudo olha o viajante..., ouve o refluir das vagas do tempo, as vozes dos homens que vêm com ele, o bater da pedra, o serrar e pregar da madeira. Viaja na alta crista dos séculos...
Eis a boa filosofia: tudo é viagem. É viagem o que está à vista e o que se esconde, é viagem o que se toca e o que se adivinha, é viagem o estrondo das águas caindo e esta sutil dormência que envolve os montes. O viajante já não se queixa.
Torna pacificado à estrada...
Nos tempos da sua juventude, o viajante tinha um dom que depois veio a perder: voava. Porém, sendo prenda que radicalmente o distinguia da restante humanidade, guardava-a para as secretas horas do sonho. Saía de madrugada pela janela e voava por cima de casas e quintais, e, como se tratava de um vôo mágico, a noite tornava-se dia claro, assim se emendando o único defeito de tal navegação. Teve o viajante de esperar todos estes anos para reaver o dom perdido...
...O milagre físico de dissipar as brumas...
É necessário aproximar todas as coisas para entender cada uma. O viajante vem para a rua, é um viajante perdido. Aonde irá? Que lugares irá visitar? Que outros deixará de lado, por sua deliberação ou impossibilidade de ver tudo e falar de tudo? E que é ver tudo? ...e por isso não ficou memória de retrato daquelas sombrias mulheres que estão falando ali desde o princípio do mundo.
O viajante não é turista, é viajante. Há grande diferença. Viajar é descobrir,
o resto é simples encontrar.
Ao viajante interessa particularmente a antiga imagem duma cidade desaparecida, urbe submersa pelo tempo, e que, enquanto cresce, a si mesma se vai devorando.
O viajante segue para ponte...
“Senhora, partem tão tristes meus olhos, por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém...”
(João Ruiz de Castelo Branco)
O viajante tem de explicar como as coisas são: mal empregadamente lá esteve quem depois vai gabar-se e dizer só: ‘Já lá fui’, ou: ‘Passei por lá.’ Ai de quem não puder declarar, com verdade: ‘Não fui lá vê-la, fui lá mostrar-me.’
Sente nas costas o olhar dos que o vêem passar, ou tudo isto será sua impressão, talvez seja dentro de si mesmo que alguém o está olhando curiosamente.
O viajante tem clara consciência de que só vendo se vê, embora não esqueça que mesmo para se ver requer aprendizagem. Aliás, é isso que o viajante tem andado a tentar: aprender a ver, aprender a ouvir, aprender a dizer.
O viajante...verifica que está à porta das montanhas. ‘Prima donna assoluta’ é a cantora de ópera que apenas faz principalíssimos papéis, aquela que nos cartazes ocupa sempre o primeiro lugar. Em geral, é caprichosa, impulsiva, inconstante. Desta também absoluta Primavera que adiantada veio, confia o viajante que não traga tais defeitos, ou tarde os mostre.
O viajante não se confunde com o turista de leva-e-traz, mas nesta sua viagem não lhe cabe tempo para mais indagações que as da arte e da história, ciente de que, se souber encontrar as pontes e tornar claras as palavras, ficará entendido que é sempre de homens que fala, os que ontem levantaram, em novas, pedras que hoje são velhas, os que hoje repetem os gestos da construção e aprendem a construir gestos novos. Se o viajante não for claro no que escreve aclare quem o ler, que é também sua obrigação.
A quem viaja hão-de ser perdoadas estas imaginações, ai de quem as evitar, não verá mais do que pedras caladas e paisagens indiferentes. O viajante apenas vai formulando idéias que nascem do que se vê, e isso é o que fazem todos se andarem com atenção a si próprios. Tem o viajante direito às suas subjetividades, ou então não lhe seria de nenhum proveito a viagem, pois viajar não pode ser senão confrontação entre isto e aquilo.
O viajante não tem quaisquer dúvidas sobre a legitimidade dos louvores que têm caído sobre este lugar, e poderia, sem esforço, juntar-lhes os seus próprios. Mas, não sendo a perfeição um fim em si mesmo, e sendo o viajante o mais imperfeito dos observadores, talvez que, para sua maior segurança, prefira encontrar-se com o artista naquela larga margem de trabalho em que a vitória sobre a matéria não é completa, sem que por isso a satisfação alcançada seja menor. É uma atitude paradoxal, sem dúvida. Por um lado, deseja-se que o artista se exprima completamente, única maneira de saber-se ‘quem’ ele é: por outro lado, prefere-se que não consiga dizer tudo, talvez, quem sabe, porque este suposto ‘tudo’ é ainda um estádio intermédio na expressão. É bem possível que certas aparentes regressões formais não sejam, afinal, mais do que o resultado dessa verificação desconcertante de que a perfeição esvaziaria o significado.
Não faltam ao presente - lugares donde possa falar ao futuro. Esta é a voz do passado. Calemo-nos neste claustro, na borda desta sepultura vazia, raspando com o pé o pó acumulado: o silêncio não é menos vital que a palavra.
...e então uma nova impressão tomou, um longo arrepio, assim ficando provado que sempre se pode ir mais longe acrescentando à linguagem outra linguagem, à abóbada a ave, ao silêncio o grito. Começa aqui o desconhecido. Assim o perto se faz longe, e escondido se torna o que está diante dos olhos. Não se esqueçam os passantes que a vida é trânsito e mais nada. Terras tão distantes são assim aproximadas por quem as visita: essa é a melhor vizinhança. O viajante...entra no reino do silêncio. É verdade que cantam pássaros, que há rápidos rumores de bichos rastejantes, que uma folha cai ou uma abelha zumbe, mas estes sons são, eles próprios, silêncio.
O viajante gosta dos seus vinte sentidos, e a todos acha poucos, embora seja capaz, por exemplo, e por isso se contenta com os cinco que trouxe ao nascer, de ouvir o que vê, de ver o que ouve, de cheirar o que sente na ponta dos dedos, e saborear na língua o sal que neste momento exato está ouvindo e vendo o que vem do largo. O via-jante bate palmas à vida. Tudo é maior que os homens. Nada é tão grande como eles.
O viajante pensa que só a grande música poderá exprimir o que os olhos se limitam a ver. Ou nem mesmo a música. Provavelmente o silêncio, nenhum som, nenhuma palavra... Sua nudez são dos mais habitados espaços em que o viajante já esteve. Já não é pequeno embaraço ter de decifrar sentidos, maior ainda se nos faltam letras. Todo viajante tem o direito de inventar as próprias geografias. Se o não fizer, considere-o mero aprendiz de viagens, ainda muito preso à letra da lição e ao ponteiro do professor.
Já se pôs o Sol, mas a planície não se apaga. Cobre o campo uma cinza dourada, depois empalidece o ouro, a noite vem devagarinho do outro lado, acendendo estrelas. Chegará mais tarde a Lua, e os mochos chamarão uns pelos outros. O viajante, diante do que vê, sente vontade de chorar. Talvez tenha pena de si mesmo, desgosto de não ser capaz de dizer em palavras o que esta paisagem é. E diz apenas assim: esta é a noite em que o mundo pode começar.
Olhar...é entrar numa vertigem suave, numa espécie de hipnotização dada e recebida, quase extática. Tem ela que ver com aquela conhecida história do rei mouro que casou com a princesa nórdica que morria de saudades das suas nevadas terras, o que ao rei estava causando grande mágoa porque lhe tinha muito amor. É sabido como o astuto monarca resolveu a questão: mandou plantar milhares, milhões de amendoeiras, e um dia, floridas todas, fez abrir as janelas do palácio onde a princesa lentamente se extinguia. A pobre senhora, vendo cobertos os campos de flores brancas meteu-se-lhe na crença que era neve, e curou-se. Esta é a lenda das amendoeiras: não se sabe o que aconteceu depois, quando as flores se fizeram amêndoas, e ninguém perguntou. O viajante conforma-se mal com a morte das coisas belas. É uma disfarçada maneira de não se conformar com a morte de todas as coisas. Os rios, como os homens, só perto do fim vêm a saber para que nasceram.
(Bem diferente seria a viagem, e o relato dela, se o viajante pudesse lançar-se na aventura de devassar o interior sertanejo. Um itinerário assim, parece de homem perdido. Por onde passa encontra, e se pede informações para o caminho sabe sempre aonde quer chegar: é portanto um viajante que a si próprio se achou. São pensamentos que passam. O viajante recusa deixar-se hipnotizar, e, sob calor esmagador, atravessa o pó, as pedras soltas.)
O VIAJANTE TORNA À COSTA. VAI VIAJANDO PARA SILVES, E,
COMO TEM TEMPO, RECAPITULA LUGARES, IMAGENS,
ROSTOS, PALAVRAS ENCONTRADAS. RECORDA ALBUFEIRAS,
BALAIAS E QUARTEIRAS, CARTAZES NAS ESTRADAS,
TABULETAS E TARJETAS, BALCÕES DE RECEPÇÃO, EMENTAS
E AVISOS, E EM TANTAS LÍNGUAS , OU TÃO CONSTANTE
USO DE ALGUMAS, NÃO SE SABE ONDE ESTÁ A SUA. ENTRA NO
HOTEL PARA SABER SE HÁ UM QUARTO DISPONÍVEL, E
AINDA NÃO ABRIU A BOCA, JÁ LHE SORRIEM E FALAM EM
INGLÊS OU FRANCÊS. E TENDO O VIAJANTE FEITO A
PERGUNTA EM SUA POBRE LÍNGUA NATAL,
RESPONDEM-LHE COM PORTUGUESA CARA FECHADA, MESMO
SENDO PARA DIZER QUE SIM SENHOR, HÁ QUARTO. O
VIAJANTE CALCULA QUANTO LHE SERIA GRATO, NAS
DIVERSAS PARAGENS DO MUNDO EXTERIOR, VER POSTA A
SUA PORTUGUESA FALA EM RESTAURANTES E HOTÉIS , EM
ESTAÇÕES DE CAMINHO-DE-FERRO E AEROPORTOS,
OUVI-LA FLUENTE NA BOCA DE HOSPEDEIRAS DE BORDO
E COMISSÁRIOS DE POLÍCIA, DA CRIADA QUE VEM TRAZER
O PEQUENO-ALMOÇO OU DO CHEFE DOS VINHOS. SÃO
FANTASIAS NASCIDAS DO SOL VIOLENTO: O PORTUGUÊS
NÃO SE FALA LÁ FORA, MEU AMIGO, É LÍNGUA DE POUCA
GENTE COM POUCO DINHEIRO. MAS SE AQUI VÊM OS
ESTRANGEIROS HÁ QUE DAR-LHES O GOSTO QUE O
VIAJANTE GOSTARIA TANTO DE TER NAS TERRAS DONDE
ELES VÊM. O BOM E O JUSTO DEVEM SER REPARTIDOS,
NESTE CASO A POSTA MAIOR PARA QUEM MELHOR PAGUE.
O VIAJANTE NÃO DISCUTE CONVENIÊNCIAS, DISCUTE
SUBSERVIÊNCIAS. NESTE ALGARVE, TODA A PRAIA QUE SE
PREZE, NÃO É PRAIA MAS É ‘BEACH’, QUALQUER PESCADOR
‘FISHERMAN’, TANTO FAZ PREZAR-SE COMO NÃO, E SE DE
ALDEAMENTOS (EM VEZ DE ALDEIAS) TURÍSTICOS SE
TRATA, FIQUEMOS SABENDO QUE É MAIS ACEITE DIZER-SE
‘HOLLIDAYS’S VILLAGE’, OU ‘VILLAGE DE VACANCES’, OU
‘FERIENORTE’. CHEGA-SE AO CÚMULO DE NÃO HAVER
NOME PARA LOJA DE MODAS, PORQUE ELA É, EM
PORTUGUÊS, ‘BOUTIQUE’, E, NECESSARIAMENTE, ‘FASHION
SHOP’ EM INGLÊS, MENOS NECESSARIAMENTE ‘MODES’ EM
FRANCÊS, E FRANCAMENTE ‘MODEGESCHÄFTE’ EM
ALEMÃO. UMA SAPATARIA APRESENTA-SE COMO ´SHOES´ E
NÃO SE FALA MAIS NISSO. E SE O VIAJANTE SE PUSESSE A
CATAR NOMES DE BARES E DE BUATES (COMO ESCREVEM,
POR VINGANÇA INVOLUNTÁRIA, OS BRASILEIROS),
QUANDO CHEGASSE A SINES AINDA IRIA NAS PRIMEIRAS
LETRAS DO ALFABETO. TÃO DESPREZADO ESTE NA
PORTUGUESA ARRUMAÇÃO QUE DO ALGARVE SE PODE
DIZER, NESTAS ÉPOCAS EM QUE DESCEM OS CIVILIZADOS
À BARBÁRIE, SER A TERRA DO PORTUGUÊS TAL QUAL SE
CALA. NÃO SE ARRENEGUE MAIS O VIAJANTE. TEM AÍ
SILVES, A ALTA COLINA, O ALTO CASTELO, LEMBRE-SE DE
QUE, SE OS MOUROS AINDA POR CÁ ESTIVESSEM, FICARIA
MUITO CONTENTE, SENDO HORAS DE ALMOÇAR, SE LHE
APRESENTASSEM UMA LISTA ONDE PUDESSE LER:
SARDINHAS ASSADAS, EM VEZ DE UM ARABESCO,
BELÍSSIMO DE VER, MAS INTRADUZÍVEL, MESMO COM
DICIONÁRIO AO LADO. ENTENDA O VIAJANTE,
DEFINITIVAMENTE, QUE PARA INGLESES,
NORTE-AMERICANOS, ALEMÃES, SUECOS, NORUEGUESES E
TAMBÉM FRANCESES, E ESPANHÓIS, E ÀS VEZES
ITALIANOS..., O PORTUGUÊS NÃO PASSA DUMA FORMA MAIS
SIMPLES DE MOURO E ARABESCO. DIGA ‘YES’ A TUDO E
VIVERÁ FELIZ. ...E SE ALI E AQUI NÃO SE DEMORA TANTO
QUANTO DESEJARIA É PORQUE ESTE SEU TEMPO
NÃO É DE ‘HOLLIDAYS’ OU ‘VACANCES’, MAS DE PROCURA.
O viajante viu, com algum desânimo... Desânimo não será a palavra justa, digamos melancolia, ou ceticismo melancólico, ou qualquer outra sensação indefinível, aquela que vem às sensibilidades diante do irremediável. Para emendar a história, é preciso, de cada vez, emendar o futuro. O viajante não vai de bom humor. Sabe porém o bastante de si para suspeitar que o seu mal nasce de não poder conciliar duas opostas vontades: a de ficar em todos os lugares, e, a de chegar a todos os lugares. Nenhuma pedra é igual às suas vizinhas, todas juntas são maravilhosa pintura....Com a eterna Jerusalém inventada ao fundo, ...nada aqui estaria melhor.
...demoram os olhos e o espírito. Usa o viajante uma forma particular de oração: admira e ama. Enquanto o viajante sai, rola mais uma cabeça dos Mártires de Marrocos. Nem sempre é perfeita a execução, nem sempre o gosto é seguro, mas até esses erros ajudam à eficácia do efeito: os olhos têm onde demorar-se, a crítica surge... Este é o reino do artifício, do faz-de-conta. Porém, declara-o sinceramente o viajante, esta conta é muito bem feita e resiste à prova dos nove da geometria. Talvez por isso o viajante, como prole das Minas Gerais que sou, começa a sentir que é tempo de ver o mar.
Se o viajante não põe aqui ponto final é (severa e fechada ao primeiro olhar, recebe o viajante como se lhe abrisse os braços, e sendo esse primeiro movimento o da sensibilidade, o segundo é o da dialética) a história de Portugal que acabará por ter de contar. Quando as mãos são muitas, só se vê o trabalho. Já o mar se vê, já refulgem as grandes águas. O vento, fortíssimo, sopra do lado da terra. Há aqui uma rosa-dos-ventos que ajudará a marcar o rumo. Para mandar as naus à descoberta da especiaria, está de feição o vento e favorável a maré. Porém, o viajante tem de voltar a casa. Nem poderia avançar mais. Daqui ao mar, são cinqüenta metros a pique. As ondas batem lá em baixo contra as pedras. Nada se ouve. É como um sonho. O viajante vai subir ao longo da costa. Para o norte. Para Melgaço, o viajante. Aberto o fórum à paisagem admirável, último lugar para a imaginação que põe romanos de toga a passear neste espaço, falando das colheitas e dos decretos da distante Roma.
Este
é
o
país
do
regresso.
A
viagem acabou?
D O V I A J O R E(M)
M Á T R I A - M E L G A Ç O
ou
T R A V E S S I A N D O
A I M A N Ê N C I A
E M P E D E R N I D A
“É mais o que canto que o que entendo.”
(Luís de Camões)
“Até Melgaço desfruta-se uma paisagem agradável, mas que não sobressai particularmente sobre o que é comum encontrar no Minho. Qualquer destas bouças faria figura de preciosidade paisagística em terras menos avantajadas de minhos, mais aqui os olhos tornam-se exigentes, nem tudo os contenta.
Melgaço é vila pequena e antiga, tem castelo, outro para o catálogo do viajante, e a torre de menagem é coisa de tomo, oculta sobre o casario como o pai de todos. A torre está aberta, há uma escada de ferro, e lá dentro a escuridão é de respeito. Vai o viajante pé aqui, pé acolá, à espera de que uma tábua se parta ou salte rato. Estes medos são naturais, nunca o viajante quis passar por herói, mas as tábuas são sólidas, e os ratos nada encontrariam aqui para trincar.
“...a vida está nos fados,
nas estrelas.”
(Rodrigues Lobo)
Do alto da torre, o viajante percebe melhor a pequenez do castelo, decerto havia pouca gente na paisagem em aqueles antigos tempos. As ruas da parte velha da vila são estreitas e sonoras.(!) Há um grande sossego. A igreja é bonita por fora, mas por dentro banalíssima: salve-se uma ‘Santa Bárbara’ de boa estampa. O padre abriu a porta e foi-se às obras da sacristia...
Lá fora, um sapateiro convidou o viajante a ver o macaco da porta lateral norte. O macaco não é macaco, é um daqueles compósitos animais medievos, há quem veja nele um lobo, mas o sapateiro tem muito orgulho no bicho, é seu vizinho. Logo adiante de Melgaço está Nossa Senhora de Orada...
“Quando com ‘ela’ me assento a falar, aio em míngua,
porque, por esquecimento, falando, descobre a língua
o que jaz no pensamento.”
(Bernardim Ribeiro)
...Vai agora o viajante iniciar a grande subida para Castro Laboreiro. Melgaço está a uns 300m de altitude. Castro anda pelos 1100m. O destino nem sempre ordena mal as coisas. Para ver a Igreja de Nossa Senhora da Orada e as meninas de Laboreiro, teve o viajante de andar 100km, número redondo: tenha agora a coragem de protestar quem achar que não vale a pena.
E tome lá, como acrescento e contrapeso, os gigantes de pedra, o macaco de Melgaço, o avião no ar, os espelhos de água, e esta pequena pedra solta, só para gente pedestre e gado miúdo...”
(de José Saramago, ‘Viagem a Portugal’)
D A O N T O L O G I A D E H E R Ó I C A V I L A
ou
A R Q U I T E T U R A D O
I N T E R S O N H O
I
“Quer’ eu en maneira de proençal
fazer agora um cantar d’amor”
(D. Dinis)
Me l g a ç o - Vila localizada em extremo norte de Portugal, sede de concelho rural de Terceira ordem (fisc. de Terceira classe), comarca de terceira classe, distrito de Viana de Castelo, diocese de Braga - rel. do Porto, órgão da freguesia da sede do concelho de Santa Maria da Porta.
Tem uma área de 173,60 km quadrados distribuídos por 18 freguesias: Alvoredo, Castro Laboreiro, Chaviães, Cousso, Cristóval, Cubalhão, Fiães, Gaol, Lamas de Mouro, Melgaço, Paços, Paderne, Parado do Monte, Penso, Prado, Remoães, Roussas & S. Paio, com uma população total de 17.388 habitantes.
Está situada na margem do rio Minho, sobre um outeiro coroado pela terra de menagem do castelo. Um resto de muralha, enquadrando uma das antigas, cinge o bairro antigo de ruas estreitas e pitorescas, que conduzem ao castelo e à igreja matriz, românica. No bairro novo estão os paços do concelho, a praça e a rua principal, onde se encontram casas comerciais e a Misericórdia, que remonta a 1531, instalada no antigo convento dos franciscanos, com hospital modernamente dotado de uma sala para parturientes.
Tem estação telegráfica-telefônica-portuária de 2 classe, com serviço de encomenda postal, cobrança de títulos, letras e vales, escola primária, caixa de crédito agrícola, Grêmio da Lavoura, agremiação bancária e de segurança, misericórdia, associação recreativa e desportiva, bombeiros voluntários, casa de espetáculos e é sede de uma seção da Guarda Fiscal e de um posto da Guarda Nacional Republicana.
Dista 96 km da capital do distrito, 20 km da estação do caminho de ferro da Monção e 9 km da ponte internacional, no término da estrada nacional n23, que liga com a espanhola para Orense e a estação do caminho de ferro espanhol. Por esta estrada comunica com Monção, servida por carreira diária de camioneta, que se prolonga até São Gregório. Da vila parte a estrada projetada até Arcos de Valdevez, que passa já além de Lamas de Mouro, com um ramal em construção para Castro Laboreiro. Na estrada nacional n23 entronca ainda, junta da povoação do Prado, a estrada municipal para Paderne.
O concelho tem por limites com a Galiza a Norte o rio Minho e a Leste o seu afluente. Transcorre, em sub-afluente a raia seca. É muito montanhoso, elevando-se da margem do Minho até o limite Sul, com o concelho dos Arcos, e apresentando menores altitudes a Oeste, no limite com o concelho de Monção, que a Leste, onde a serra de Laboreiro, em continuação da cordilheira Soajo-Peneda, atinge, no monte Pedroso e em outras partes, altitudes de 1.300 metros .
O rio Mouro, nascido na montanha, corre na direção Leste-Oeste, ao encontro do Minho, deixando um sulco de fertilidade na região serrana. Na direção Norte-Sul, marcas da linha da fronteira, já nas proximidades do conselho dos Arcos de Valdevez, corre para o Lima o ribeiro da Vázea ou Castro Laboreiro, que forma o vale onde se encontra a maior parte das ‘inverneiras’. Os castrejos oferecem o exemplo único no País de uma população serrana que na primavera emigra em massa das povoações dos vales para outras na montanha, onde cultiva a terra
e apascenta os gados.
Apesar de limitada à zona ribeirinha do Minho, ao vale do Mouro e às encostas de menores altitudes, a parte fértil do concelho produz à roda de 32.000 hectolitros de batata produzida nos vales e na montanha. A ribeira tem ainda o recurso da pesca da lampreia, do salmão etc... No Minho, a montanha produz os afamados presuntos conhecidos por ‘presuntos de Melgaço’.
O descanso semanal é ao Domingo e o feriado municipal em Quinta-feira da Ascensão. Há feiras todos os Sábados em Melgaço, a 15 e último dia do mês em Castro Laboreiro , e 3-18-25 em Prado, 9 em Penso, tem romarias na ermida da Senhora da Orada e, a São Bento, em Fiães.
É famosa por suas águas... Na freguesia de Penso, a estância de águas bicarbonadas calóricas, sódicas, magnesianas, siliciosas férreas e litinadas, carbogasosas de Melgaço, indicadas nas dispepsias, litíase biliar e renal, anemias e diabetes. Possui grande estabelecimento hidroterápico e extenso parque com campo de jogos...
A igreja (1130), a da consagração, teve (em vida de) D. Paterna, viúva de Hermenegildo - conde de Tui, (como) fundadora do mosteiro. Renovada em 1246. Possui duas portas de épocas diferentes (‘de bastante originalidade’), nave única com 3 capelas absidais e exuberância de arte avançada. Já a senhora da orada(a 1 km) é um monumento simples e puro de estilo.
“Sou a Ocasião, que é tudo e é nada; tal é de qualquer carta o sobrescrito,
tal o sino do Templo em que se adora, que chama para dentro e fica fora.”
(Brás Garcia de Mascarenhas)
Há as ruínas do claustro do mosteiro de Fiães, igreja românica de Chaviães e Lamas de Mouro, e até uma Virgem românica na igreja da paróquia de Cubalho. O quadro natural muito os valoriza. A Louçaria verde do Minho, unida à grandiosidade panorâmica e ao arrojo ciclópico das montanhas, é de inconfundível beleza.(!)
Achados utensílios do homem quaternário. Restam também vestígios Romanos em civilidades e castros (se imagina que por lá exploravam minas de ouro). Antes da fundação da ‘nacionalidade’ já havia o castelo de “Riba Minho”.
(dados pitorescamente históricos – certamente passíveis de atualizações – colhidos em Real Gabinete Português de Leitura Rio de Janeiro - RJ - Brasil)
II
“Nós somos vida das gentes
e morte das nossas vidas.”
(Gil Vicente)
“O Concelho de Melgaço é a região mais setentrional de Portugal. Estende-se pela margem esquerda do rio Minho até as serras da Peneda e do Soajo. (...) O município dispõe de um patrimônio construído e paisagístico de considerável valor. Para além da paisagem natural, da variedade da fauna e flora, das múltiplas possibilidades de percursos terrestres, há os testemunhos históricos, desde a pré-história à Idade Média. Os dólmens, os castros, as igrejas românicas, as pontes tão variadas quanto belas, são alguns dos atractivos de teor histórico. Mas esta riqueza é acrescida de um conjunto de valores etnográficos, de que ressaltam interessantíssimos usos e costumes ainda vivos, e que aqui se têm mantido, numa espécie de raro eco-museu:
CASTELO DE MELGAÇO – fundado no séc. XIII. Da antiga fortificação medieval de planta circular, resta a torre de menagem, parte da alcáçova, as portas voltadas ao norte e poente, parte do barbacã, das torres que flanqueavam uma das portas da cerca e a cisterna.
IGREJA MATRIZ – edifício românico do séc. XII, primitivamente designada Igreja de Santa Maria da Porta. No tímpano da porta lateral norte está representada, segundo alguns estudiosos, a figura de um lobo e segundo outros. de um leão. No seu interior possui um retábulo em talha e na parte superior deste estão representadas as armas da Matriz. O retábulo existente na capela lateral esquerda é de finais do séc. XVI é a óleo sobre madeira de Antônio Figueiroa. Existe uma outra pintura, onde está representada a Adoração dos Magos – atribuída ao mesmo pintor.
IGREJA DA MISERICÓRIDA – primitivamente designada Igreja de Santa Maria do Campo, edifício românico do séc. XIII. No séc. XVIII construiu-se a galilé. No seu interior, ao centro do arco cruzeiro, existe um emblema das armas da misericórdia.
IGREJA DO CONVENTO DAS CARVALHIÇAS – também Convento de Nossa Senhora da Conceição. Construída no séc. XVIII, possui no seu interior, no tecto, uma pintura da imagem de Nossa Senhora, onde se vêem as armas franciscanas e as reais de Portugal. Na parte superior do altar-mor um escudo de fantasia com um cordão franciscano assente nos bordos.
PEDRA DE ARMAS - situa-se na parede do lado esquerdo do átrio da Câmara Municipal, procede da antiga muralha da fortaleza. Trata-se de dois escudos esculpidos na mesma pedra. Armas de Portugal, inclui nas quinas de Portugal (‘do tempo de D. João II ou posteriores’), sendo a quina do chefe acompanhada de dois castelos e o escudo encimado por coroa real aberta. Emblema particular de D. João II, um pelicano de perfil, pousado num ninho, alimentando os filhos, encimado por coroa real aberta.
CAPELA E CRUZEIRO DE SÃO JULIÃO – talvez, um vestígio da arte gótica popular do séc. XIV. A capela é de planta rectangular, com arco apontado no frontispício apoiado na parede e uma janela no frontão. Pertenceu à antiga gafaria medieval. O cruzeiro é formado por fuste, ornamentado com vários motivos. O capitel muito característico serve de apoio a um crucifixo com imagem dupla.
E mais: CAPELA DE NOSSA SENHORA DA ORADA (séc. XIII, pertença dos monges de Fiães até à extinção das ordens religiosas, na fachada esquerda no tímpano está gravada a ‘Árvore da vida’); IGREJA PAROQUIAL DE CHAVIÃES (séc. XIII, vestígios de frescos de datam de XV em que estão representados os três reis magos, um anjo e um monge. D’outro lado, as figuras de Santo Antão, e, quiçá São Paulo e os soldados); CRUZEIRO DE SÃO GREGÓRIO (conjugação de cruzeiro com alminhas: de Época Moderna com fuste circular, em que o capitel é encimado por cruz latina ostentando representação escultória, a de Cristo e a da Virgem, as alminhas são de Época Contemporânea) etc.
Fazem relevantemente parte do patrimônio melgacense:
ALMINHAS – pequenos e singelos monumentos de piedade religiosa, erguidos em montes e vales, nos povoados e caminhos, nas encruzilhadas e solidões. Em muitas, de noite, arde um votivo lume de azeite, sustentado com as esmolas dos fiéis, ou pelo fervor dalgum vizinho devoto, em cumprimento de promessa. De madeira, folha metálica, azulejo e mormente na pedra fundeira dos nichos, pintam-se os painéis das alminhas. Raros são os esculpidos no pau e na pedra. Sua origem é controversa. Submetida por muito tempo à descendência directa dos altares romanos dedicados aos Lares Viales e aos Lares Compitales. No entanto, tal idéia foi abandonada. O cristianismo separou o divino do humano, almas e Deus. Esse culto afinal já se praticava na Era Neolítica, segundo prova o costume de colocar alimentos e armas nas sepulturas. Surgiram, pois, quando na consciência do homem raiou a preocupação do mistério da morte.
BRANDAS – e inverneiras constituem espaços mutuamente complementares, ocupados alternadamente e de acordo (tal mobilidade residencial) com o calendário de mudanças estacionais, pelo mesmo contingente populacional.
MEGALITISMOS – fenômeno cultural Pré-histórico caracterizado pela existência de monumentos construídos em pedras e lajes. Associam-se à construção de monumentos funerários colectivos. Temos os dólmens ou antas e as cistas. Utilizados pelas comunidades de pastores e agricultores entre o IV e II milênios A.C.
PONTES – a beleza das pontes melgacenses mais representativas resulta da perfeita integração para com a natureza e da simplicidade de cada um dos tipos estruturais básicos que a podem constituir. Inúmeras, fruto da Idade Média, reconstruídas sobre estrutura romana pré-existente.
S u m á r i o
Aspectos Geográficos
O concelho de Melgaço, do distrito de Viana do Castelo, é o concelho mais a norte do país, a cerca de 160 km para noroeste da cidade do Porto e 96 de Viana do Castelo. Localiza-se na margem esquerda do rio Minho que o separa de Espanha ao longo de uma extensão considerável onde se situavam três fronteiras. A sul, em plena serra da Peneda, encontra-se o concelho de Arcos de Valdevez e a oeste, Monção. Com uma altitude de aproximadamente 180 metros, cobre uma área de 238,1 km2, onde se distribuem 18 freguesias: Alvaredo, Castro Laboreiro, Chaviães, Cousso, Cristoval, Cubalhão, Fiães, Gave, Lamas de Mouro, Paços, Paderne, Parada do Monte, Penso, Prado, Remoães, Roussas, São Paio e Vila. Em 2001, o concelho apresentava 9996 habitantes.
O concelho de Melgaço apresenta características geográficas bem distintas, resultantes da variação da altitude e do relevo que contribuem para as diferentes feições climáticas, ora de influência atlântica, ora continental. Estes factores físicos, condicionaram de forma mais ou menos evidente a ocupação do território, originando duas áreas com características distintas. Uma, sob a influência do rio Minho, aparece-nos quase como o prolongamento geográfico de Monção, com uma paisagem moldada pelo homem, com os seus campos intensamente trabalhados, cultivados de vinhas e outras culturas de subsistência. A outra, com um relevo mais montanhoso e um clima mais agreste, estende-se desde a freguesia de Fiães a Castro Laboreiro, integrando parte do Parque Nacional da Peneda Gerês. A sua ocupação prende-se com as formas tradicionais de criação de gado, com a transumância, que não permite muito mais do que uma vida difícil e sujeita às condições do meio.
História e Monumentos
O povoamento desta região perde-se nos tempos, tendo por aqui passado muitos povos como os Árabes, os Lusitanos e os Romanos. Todavia, o vasto património arqueológico de Castro Laboreiro - os dólmenes, as gravuras rupestres, os núcleos castrejos, as pontes celtas e romanas - demonstra claramente a presença humana desde os tempos da pré-história. Numa pequena aldeia serrana de Castro Laboreiro, localizada a 950 metros de altitude, podem observar-se alguns exemplos da arquitectura popular, dando-se especial destaque à chamada ponte céltica de Portos.
Melgaço, foi durante toda a Idade Média um ponto avançado de defesa estratégica.
Em 1170, D. Afonso Henriques levou a cabo o povoamento da vila e a reconstrução do castelo. No tempo de D. Dinis, e a seu mando, a povoação foi protegida por um cinta de muralhas que mais tarde D. Afonso III reforçou. Desta construção restam ainda duas portas, alguns panos de muralha e a torre de menagem do castelo, do tempo da fundação da nacionalidade. Do património de Melgaço, fazem também parte a Igreja Matriz, românica, com origem provável no século XIII; a Igreja da Misericórdia; o castro de Melgaço e já fora de portas a antiquíssima Igreja de Nossa Senhora de Orada, de construção românica. Ainda dentro do concelho, destaca-se a Igreja românica de Paderne, datada do século XII.
Tradições, Lendas e Curiosidades
Em Castro Laboreiro apurou-se uma raça de cães pastores que adoptou o nome da povoação. São cães de guarda, bastante robustos, utilizados para proteger o gado dos ataques dos lobos.
O rigor do clima, principalmente nas zonas de maior altitude, esteve na origem das brandas e das inverneiras que estão directamente ligadas à transumância do gado bovino e servem de abrigo aos pastores. São casas pobres, de paredes de pedra solta, com uma pequena entrada e com telhados cobertos de colmo. Têm normalmente dois pisos, um inferior onde se abriga o gado e um superior, que serve de habitação para os pastores.
Da tradição do concelho fazem parte várias lendas, inspiradas nos difíceis e frequentes confrontos com a vizinha Espanha, na defesa do território. É o caso da lenda da Inês Negra que, segundo a tradição popular, travou um duelo contra a Renegada (outra mulher, partidária dos castelhanos), do qual saiu vitoriosa e aclamada pelo povo.
Em Melgaço realizam-se no segundo domingo de Agosto as festas concelhias dedicadas à Senhora da Orada. O feriado municipal é na quinta-feira de Ascensão.
A tecelagem em lã e linho, as mantas de trapos e os bordados de linho e lã são os principais produtos do artesanato da região.
Economia
O concelho de Melgaço está inserido numa região serrana, fortemente influenciada pela proximidade de Espanha e pelo rio Minho que, além da pesca, encerra um enorme potencial para o desenvolvimento do turismo e da indústria. Com um carácter marcadamente agrícola, tem-se vindo a assistir nas últimas décadas a uma progressiva diminuição da sua população à custa da emigração. Nesta região, predomina a pequena propriedade, característica de uma agricultura tradicional associada à pecuária. Abundam as culturas do milho, centeio, feijão, batata, vinha e a criação de gado bovino.
No entanto, Melgaço não é só história e ruralidade, o sector dos serviços denota algum crescimento, patente nas várias infra-estruturas para a educação e para o lazer, com especial destaque para a Estância Termal de Melgaço, a cerca de 4 km da vila.
(informações levantadas por meio do melgacense Núcleo Museológico
e de Pesquisa ‘Torre de Menagem’ e Flickr)
- A D E N D O S
I N T E R M E D I E V O S -
D A O R D E N A Ç Ã O
H E R Á L D I C A
- B R A S Ã O E
B A N D E I R A -
ou
À S A R M A S,
À S A L M A S
Escudo de prata, com um monte de negro, sustendo um castelo de vermelho aberto e iluminado do campo e acompanhado por dois leões de vermelho armados e linguados do mesmo, sustidos no monte, afrontados e sustendo, em chefe, nas mãos, uma quina antiga de Portugal de azul com doze besantes de prata. Em contra-chefe três faixas ondadas, duas de prata e uma de azul. Coroa rural de prata de quatro torres. Listel branco com a legenda de negro: "VILA DE MELGAÇO".
D A S P E R S O N A G E N S
G U E R R E I R A S E
S O N O R O S A S
ou
M E D I E V A L I S M O
A N Í M I C O
I
“Há só mar no meu País. Não há terra que dê pão:
mata-me de fome a doce ilusão de frutos como o Sol”
(Afonso Duarte)
João I não aceitava que Melgaço fosse a última praça no norte a terçar armas por Castela. Sai de Braga e resolve ele próprio assumir o comando das suas lanças. Teria, assim, oportunidade de mostrar a sua mulher (D. Filipa de Lencastre), como espectáculo de bravura, o assalto à praça rebelde. E diz a tradição que vivia dentro da praça forte (Melgaço), uma mulher a quem chamavam de ‘Arrenegada’, por igualar à sua bravura a tradição que fizera as hostes Lusitanas. Soube, então, que fora da praça havia, também, um outra mulher chamada de ‘Inês Negra’, minhota e que se propunha desafiá-la para um combate singular e à boa maneira medieval. Do ajuste se fazia a sorte da praça de Melgaço. Aceito o combate pelos ‘de dentro’ como pelos ‘de fora’, o mesmo deveria realizar-se a igual distância das muralhas e do arraial Lusitano. A ‘Arrenegada’ esperava já pela ‘nossa Inês’ e a luta começa logo encarniçada e feroz. E diz a crônica que a ‘Arrenegada’ depois de ‘ficar por baixo’ foi para dentro da cerca ‘corrida’ com os cabelos arrancados e levando nos ‘focinhos’ muitas nódoas
das punhadas da de fora.
Para a glória de Inês Negra, El-Rei D. João I e Rainha e suas lanças, Melgaço capitulava. E foi o Prior do Hospital incumbido de aceitar a ‘preitesia’ e estabelecer as condições. Não só entregariam a vila e o castelo a El-Rei, mas obrigavam-se a sair da fortaleza em ‘gibões’ sem outra coisa... Foi um dia de festa em Melgaço. E
logo ao som de trombetas e charamelas se armaram tendas junto à Torre de Menagem.
DA ORIGEM DA TRADICIONAL ‘CEIA MEDIEVAL’ DE MELGAÇO: E vieram as melhores comedorias e a etiqueta e as mesuras do Convento de Fiães. Quiçá, ainda melhoradas nos ‘princípios’ (acepipes) e nas ‘cobertas’ (prato de cada serviço). E lá estavam, cerimoniosamente vestidos, o ‘veador’; o cozinheiro e os moços de cozinha; o trinchante-mor que recebia do uchão as iguarias; os oficiais de serviço; o copeiro-mor e o copeiro pequeno. E bebeu-se e comeu-se. Caça do Couto do Dom Abade de Fiães toda a alimária do mato, eram comidas comuns! E a primeira peça escolhida foi a perdiz. Depois, entre o rufar dos tambores, o javali e o veado, com as cabeças enramadas de folhas de loureiro e alecrim. O vinho era do Mosteiro, tinto de boa cepa. E os picheis de vinho não deixaram descansar nem o copeiro-mor, nem o copeiro pequeno, tal era a pinta do verdasco.
(dados históricos colhidos em Festa da Cultura de Melgaço, Câmara Municipal)
“É lei de Deus este aspirar imenso Amar! mas de um amor que tenha vida...
Nuvem, sonho impalpável do desejo... E deixa-me sonhar a vida inteira...”
(Antero de Quental)
A vitória de INÊS NEGRA, portuguesa, deu a Melgaço uma heroína (‘que é mula das valorosas miúdas’) da vizinha vila de Monção.
“Oh, vendei-me a paz nos Céus
pois tenho o poder na Terra!”
(Gil Vicente)
D. João I fê-la - a vila - couto de homiziados em 1431 (empenhado com a repovoação pós-guerra). Lavraram, trouxeram gados e apanharam juntas de Valadas (era lá pequenino para eles...). Pedro I (1361) a tornou ponto obrigatório na passagem pela fronteira. Nos livros das “Portarias Reais” e outros... : mercês são dispensadas aos Melgacenses por serviços prestados nas conquistas do reino. Pois fora cenário de façanhas bélicas, principalmente através do seu Castelo.
Na primeira invasão francesa, Melgaço deu exemplo ao País ao expulsar os invasores (11-VI-1808)
(dados colhidos em Real Gabinete Português de Leitura Rio de Janeiro - RJ - Brasil)
II
“Se eu não morresse nunca! E eternamente buscasse e
conseguisse a perfeição das cousas.
Esqueço-me, Melgaço, a prever castíssima esposa,
que aninhe em mansões de vidro transparente!”
(adaptação cesarioverdiana)
Dias (Diogo) - Músico, do séc. XVII, natural do Crato, que estudou na Sé de Évora, e onde foi mestre capela, granjeando fama de bom compositor (ao fundo é possível ouvir a obra O Vos Omnes por meio do Coral lusitano São Domingos). Deixa manuscritas várias obras de Música...
Apesar de comumente ser chamado de Melgás ou Melgaz
tratam-no alguns autores:
Diogo Dias M e l g a ç o
(dados colhidos em Real Gabinete Português de Leitura Rio de Janeiro - RJ - Brasil)
D A I M A G É T I C A
V E R T I G E M
ou
P I C T Ó R I A -
Q U A D R O A Q U A D R O
(para vislumbrar Melgaço em s l i d e)
D O D E P O I M E N T O
D A A U T O C T O N I A
ou
V O Z E S D O
P R E T É R I T O - F U T U R O
"Marcado pela interioridade, com características essencialmente rurais, Melgaço é uma terra onde a vida é ganha com esforço e tenacidade, por isso, a nossa história é tão rica como difícil a vivência do nosso povo. Terra sem grandes recursos económicos, Melgaço tem nas suas gentes a principal riqueza e foi com este potencial que no último século construímos a história recente. Assim, assistimos no início do século à emigração para o Brasil que deu novo alento à economia local, sucedeu-se a maciça emigração para França que numa primeira fase testou a resistência e coragem dos Melgacenses, traduzida em viagens clandestinas de peripécias dramáticas e mais recentemente para o resto do mundo. A luta do Melgacense com o mundo se por um lado contribuiu para a melhoria das condições de vida das nossas gentes por outro provocou o esvaziamento da nossa população. Para fazer face a este problema temos feito um grande esforço público, investindo nas infra-estruturas básicas, nos vários acessos ao concelho, na recuperação do património, na valorização dos produtos regionais, na criação de equipamentos de apoio ao desporto e à cultura, na educação e formação, na dinamização económica e na solidariedade social. Temos consciência que este investimento é insuficiente, sendo por isso indispensável irmanar esforços públicos e privados para garantir o progresso da nossa terra. Estamos, todos, a preparar o município para que o início de milénio seja de confiança no futuro de Melgaço e dos Melgacenses."
(Antonio Rui Esteves Solheiro - Presidente da Câmara Municipal)
D O
D E S C O R T I N A M E N T O
À M O D E R N I D A D E
ou
D E C U P A G E M
D I A C R Ô N I C A
- O Museu do Cinema
de Melgaço -
é ponto de paragem obrigatória para os apaixonados da sétima arte. Nasceu do grande amor de um cinéfilo francês por uma pequena vila alto-minhota...
A história de um grande amor pode contar-se em poucas palavras.
Era uma vez, há mais de três décadas, um afamado cinéfilo francês, que travou conhecimento com um casal de portugueses ao realizar um documentário sobre a presença da comunidade lusa em França.
Jean Loup Passer, assim é o seu nome, rendeu-se aos encantos de ambos, e aceitou passar umas férias em Melgaço, onde residiam. Algo mudou na vida do responsável pelo Festival Internacional de La Rochel (desde 1973) e conselheiro de Cinema do Centro Georges Pompidou.
Por aqui comprou casa. E há quem jure que, desde logo, começou a conjecturar a construção de um museu dedicado à sétima arte, para coroar esta pequena e sedutora vila. O sonho concretizou-se o ano passado, com a inauguração do
Museu do Cinema de Melgaço,
tendo Jean Loup Passer doado toda a sua colecção privada como prova da sua paixão.
Do pré-cinema aos Lumière
É um pouco de tudo isto que podemos observar no antigo Posto da Guarda Fiscal de Melgaço, agora transformado em museu. Desde os trôpegos passos na era do pré-cinema até ao nascimento da sétima arte propriamente dita. Na primeira das salas recuamos logo ao século XIX, onde estão expostas as lanternas mágicas, representativas já do movimento através de uma manivela que fazia girar pequenas superfícies vidradas pintadas com imagens. Nomes bizarros como Fenakiscópio – que, por intermédio de um disco giratório com desenhos ligeiramente diferentes, indicava o futuro dos desenhos animados – ou como Praxinoscópio, cujos jogos de espelhos mostravam um casal a dançar, e que preparavam o terreno para o cinematógrafo dos irmãos Lumière, em 1895, são algumas das muitas máquinas que podemos ver.
Vivíamos ainda o pré-cinema, de carácter rural, e que muitos vaticinavam de curta duração. Não teve. E tornou-se, anos mais tarde, um espectáculo para as classes abastadas, apesar dos primeiros cartazes que anunciavam “Todos vão e levam os filhos”, também eles patentes no museu, junto a outros históricos, como o do filme “Há festa na aldeia”, de Jacques Tati (1947), a fazerem gala, logo à entrada.
Ainda no rés-do-chão temos pormenores que fazem as delícias dos devotos do cinema: fotos de vários actores, cheques pessoais (como um de James Stewart de 58,30 dólares), entre muitas outras curiosidades. Numa terceira sala, em grande destaque, encaramos uma caixa óptica, aparelho que, ainda no século XVIII, começou a desafiar as noções de perspectiva; logo a seguir os visitantes são presenteados com um grande ecrã de plasma, onde passam, continuamente, curtas metragens, privilegiando os imortais Charlot e Buster Keaton.
Exposições temporárias
Subindo ao piso superior – o espaço possui uma plataforma eléctrica para deficientes – deparamo-nos com a sala para exposições temporárias. Aquando da visita da Rotas & Destinos, o tema versava sobre as “Divas do cinema”, perfilando-se em fotos de grande formato nomes como os de Greta Garbo, Marlene Dietrich e Veronica Lake, ou, ainda, rainhas dos tempos mudos, como Clara Bow (“Asas”, 1927). Actualmente, está patente uma mostra dedicada ao “Cinema francês”. Homenagem justificada quer pela nacionalidade do director do museu quer pela própria história da grande tela, que aqui encontra as suas raízes.
(Texto sobre o Museu - Jorge Flores)
D O R E P L A N T A R
R O S A-D O S-V E N T O S
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T U R I S M O
I N A C I D E N T A L
Foi o primeiro pólo da fronteira do Minho a ganhar importância estratégica e que perdurou até ao fim da Idade Média. D. Afonso Henriques concedeu-lhe foral em 1183, pretendendo deste modo fomentar o desenvolvimento da povoação e a fortificação da fronteira. Com D. Afonso III e D. Dinis, a Vila é cercada de muralhas que, rodeando o burgo românico, hoje o separam da parte nova. Com D. Pedro I, Melgaço recebe o privilégio de o trânsito para Espanha fazer aí a sua passagem obrigatória. Vários acontecimentos históricos se desenrolaram em redor de Melgaço, alguns de capital importância para o país, como foi o caso da guerra de D. João I de Portugal contra João de Castela, em que se tornou em lenda a luta entre Inês Negra e "Arrenegada". Elegemos estes monumentos da região: igreja do Mosteiro de Paderne; igreja de Fiães; igreja de S. João Baptista (Lamas de Mouro); igreja Matriz de Castro Laboreiro; igreja Paroquial de Chaviães - edifício românico do séc. XIII; igreja/convento das Carvalhiças, do séc. XVIII (vila); capela de S. Julião - de estilo gótico, séc. XIV (vila); capela de Sto. Cristo (vila); ponte das Cainheiras - medieval com dois arcos de volta perfeita (Castro Laboreiro); ponte Dorna - medieval com um arco de volta inteira (Castro Laboreiro); ponte de Varziela - medieval, com um arco de volta perfeita (Castro Laboreiro); ponte e moinho da Assureira (Castro Laboreiro); ponte Nova/Cava da Velha - de estrutura romana, adaptada na época medieval (Castro Laboreiro); castelo de Melgaço - do séc. XIII, destaca-se a Torre de Menagem (vila); muralha de Melgaço - do séc. XIII (vila); igreja Matriz (vila); igreja da Misericórdia (vila). Para visitar aconselhamos a Ermida de S. Marcos da Várzea, em Remoães, o edifício da antiga Câmara Municipal/Cadeia/Biblioteca (Vila), quinhentista com pórtico do séc. XVII, a Casa da Quinta da Calçada (Vila), do séc. XVII, a capela da Orada (Vila) e o Castelo de Castro Laboreiro - fortificação medieval. A gastronomia deste município é um grande atractivo turístico devido à abundância e qualidade dos seus produtos e à sua cuidada elaboração. Alguns dos pratos típicos são o cabrito assado no forno de cozer o pão, a lampreia com arroz, a lampreia à bordaleza, as trutas do rio Minho abafadas, o sarrabulho, o caldo de farinha, os grelos com rojões, a bôla da frigideira, o bolo da pedra, o arroz de cabidela; a água d'unto, o bucho doce, as migas doces e os pasteis mimosos. As festividades são inúmeras na localidade, por isso apenas nomeamos: as festas de Paderne, em Agosto, as festas concelhias, no segundo domingo de Agosto e as festas de N. Sr.ª do Rosário, em Setembro.
Feriado Municipal - 29 de Maio (Ascensão)
Acessos Rodoviários - De Lisboa utilize a A1 até ao Porto. Do Porto utilize a A-3 até Valença do Minho, a N101 até Monção e siga pela N202 para chegar a Melgaço.
Elo - Região de Turismo do Alto Minho
(eurolista)
- P S E U D ' E P Í L O G O -
D O S U R B I N D Í C I O S
D ' O I R O
ou
D I S P E R S Ã O
E S P A Ç O - T E M P O R A L E M M E L
“Num sonho de íris vivo a oiro e brasa, vem-me lembranças doutro Tempo azul que me oscilava entre véus de tule - um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.
Então os meus sentidos eram cores, nasciam em jardim as minhas ânsias, havia na minha alma outras distâncias - distâncias que o segui-las eram flores...
Caia Oiro se pensava Estrelas, o luar batia sobre o meu alhear-se... - Noites-lagoas, como éreis belas sob terraços-lis de recordar-me! Idade acorde de Intersonho e Lua, onde as horas corriam sempre jade, onde a neblina era uma saudade, e a luz - anseios de Melgaço nua.
Balaústres de som, arcos de Amar, pontes de brilho, ogivas de perfume... Domínio inexprimível de ópio e lume que ainda, em cor, hei-de habitar...
Tapetes de outras Romas mais oriente... Cortinados de Medievo mais marfim... Áureos Templos de ritos de cetim... Fontes correndo sombra, mansamente...
Zimbórios-panteões de nostalgias, de ser-Eu sobre o mar, escadas de honra, escadas só, ao ar... Novas Bizâncios-Alma, outra Jerus-além...
Mel-g-aço translucidamente ser...
Lembranças fluídas... Cinza de brocado... Irrealidade anil que em mim ondeia... - Ao meu redor eu sou Rei lisonjeado, Eu-Ulisses dum sonho de Sereia...”
(M á r i o d e S á - C a r n e i r o / O t a c í l i o M e l g a ç o)
A
viagem acabou.
Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: ‘Não há mais que ver’, sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
O viajante volta já...
D O A P O R T A R E M
T E R R A B R A S I L I S
ou
O S (A) M E L G A Ç (A D) O S
D O G R A N D E
S E R T Ã O
I
“Agora peregrino, vago, errante,
vendo nações, linguagens e costumes,
céus vários, qualidades diferentes...”
(Luís de Camões)
Melgaço, sobrenome de origem geográfica. Vila de Portugal.
Xavier Fernandes transcreve, sem dizer de onde, o trecho de Leite de Vasconcelos: Melgaço parece relacionar-se com o nome de homem
MELGAECUS,
que se lê em expressões romanas do Minho, o étimo seria acaso
MELGACEUS
igual a
MELG-ACEUS.
(Antenor Nascente, Dic. II, 197)
.
- Da Dialectologia d e M e l g a ç o: I, II, III -
II
“Tuas aras profanas renuncio:
professei outra fé, sigo outro rito
e para novo altar meus hinos canto.”
Almeida Garret
Melgaço - Família estabelecida na Bahia, à qual pertenceu Reginaldo José de Jesus Melgaço, administrador da Mesa de Rendas da Comarca de Caravelas (Bahia, 1881).
No Acre, cabe registrar Anselmo Melgaço, um dos primeiros povoadores nas margens do rio Acre, em torno de 1878 (Castelo Branco, Acreania, 183).
(dicionário de famílias brasileiras)
III
Há, Brasil afora, crescentes registros, eu diria, de amelgaçamento
Dois dos mais relevantes:
Melgaço - município do estado do Pará. Localiza-se a uma latitude 01º48'16" sul e a uma longitude 50º42'44" oeste.
Barão de Melgaço - município do estado de Mato Grosso. Localiza-se a uma latitude 16º11'40" sul e a uma longitude 55º58'03" oeste.
IV
D o B a r ã o d e
M e l g a ç o
O Almirante Augusto João Manuel Leverger, primeiro e único barão de Melgaço (Saint-Malo, 30 de janeiro de 1802 — Cuiabá, 14 de janeiro de 1880), foi um escritor, herói da Guerra do Paraguai e presidente da então província de Mato Grosso
por várias ocasiões.
Filho de Mathurim Michel Leverger e Regina Corbes, chegou a Cuiabá em 23 de novembro de 1830. Casou-se com Inês de Almeida Leite em 1843.
Foi escritor, historiador e geógrafo, sendo um de seus principais interesses a hidrografia. Apesar de não ser considerado um literato, foi a mais importante figura da literatura matogrossense de sua época.
Devido a seu conhecimento da província de Mato Grosso, foi nomeado Cônsul-Geral do Brasil em 1839 para estabalecer boas relações com o Paraguai, sobretudo no tocante à navegação do Rio Paraguai e ao estabelecimento de fronteiras. Esse cargo, só o aceitou em 1843.
Quando da Guerra do Paraguai, lutou no Forte de Coimbra e fortificou o campo de Melgaço para proteger Cuiabá das tropas de Solano López. Por ter impedido que as tropas invasoras atingissem a capital matogrossense e devido a seu envolvimento na guerra, foi consagrado herói.
Em carta enviada quando de sua agraciação por Dom Pedro II com o título de barão, escreveu: “peço a V.Ex. o obséquio de tratar da obtenção do diploma, brasão, etc., pois não tenho tempo nem facilidade de imaginar coisa alguma a esse respeito. Ministrar-lhe-ei as seguintes verídicas informações. Não sei a significação nem a etimologia de Melgaço. É o nome de uma série de colinas que bordam o Rio Cuiabá, distante vinte léguas...”
Foi, ainda, nomeado presidente e vice-presidente de Mato Grosso em várias ocasiões por Dom Pedro II.
Após sua morte, várias tentativas foram feitas para publicar sua obra, o que nunca ocorreu, no entanto. Quando do governo de Manoel José Murtinho em Mato Grosso, o Barão de Melgaço foi homenageado com um monumento erguido sobre o seu túmulo no Cemitério da Piedade, em Cuiabá.
D a s O b r a s
d o
B a r ã o
Observações sobre a carta geral do império
Apontamentos do Capitão de Fragata Augusto Leverger sobre o Rio Paraguai.
Apontamentos Chronológicos da Capitania de Matto-Grosso.
Apontamentos para o Diccionário Chorográphico da Província de Matto-Grosso.
Apontamentos sobre Eleições na Província de Mato- Grosso.
Diário Privado do Chefe de Esquadra Augusto Leverger relativo aos meses de Janeiro, Fevereiro e Março de 1865.
Breve Memória relativa à Corografia da Província de Matto-Grosso.
Breve Resumo da Vida do Barão de Melgaço, Quanto à Parte Econômica, Escrita
por ele mesmo.
Carta Chorográfica do Distrito de Miranda, na Província de Matto-Grosso.
Carta Geográphica da Província de Matto-Grosso.
Apontamentos Avulsos.
Carta Hidrográfica do Rio Sepotúba.
Carta de um Reconhecimento no distrito de Miranda, na Província de Matto-Grosso.
Carta e Roteiro da Navegação do Rio Cuiabá desde o Salto até o Rio São Lourenço e deste último até a sua Confluência com o Paraguai.
Condições Administrativas da Província de Matto-Grosso, Apresentadas em Relatório de 13 de Janeiro de 1852 ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios
do Império.
Derrota da Navegação Interior, da Vila de Porto Feliz, de São Paulo, à
Cidade de Cuiabá.
Diário do Reconhecimento do Rio Paraguai desde Assunção até o Rio Paraná.
Diário e Roteiro de Viagem feita desde a Cidade de Assunção no Paraguai até
Baía Negra.
Dicionário Geográphico de Matto Grosso.
Documentos Oficiais Portugueses e Espanhóis relativos a Limites do Império na Província de Matto-Grosso.
Esboço Hidrográfico, em Grande Escala, desde a Foz do Rio Miranda até o Paraguai.
Esboço do Rio Cuiabá desde a Confluência do Rio São Lourenço até à Cidade daquele nome, Capital de Matto-Grosso.
Exame de um parte do Rio Paraguai, entre a Foz do São Lourenço e o Paralelo 17º.35' e das Lagoas Uberava e Guaíba.
Índios da Província de Matto-Grosso.
Informação Prestada ao Ministro da Marinha em 1851, sobre as Matas de Madeira
de Construção Naval.
Informação Prestada em 1851 sobre o Traçado de uma Estrada que Comunique esta Capital com a Cidade de Santarém, no Pará.
Mapa da Fronteira Sul da Província de Matto-Grosso.
Mapa Geográphico, Chronólogico e Estatístico da Província de Matto-Grosso.
Memória sobre o Rio Paraguai, desde Nova Coimbra até Assunção.
Notícia sobre a Província de Matto-Grosso.
Observações sobre a Carta Geográfica da Província de Matto-Grosso.
Planta Hidrográfica das Lagoas Uberava e Guaíba e da Porção do Rio Paraguai até a Foz do Rio São Lourenço.
Roteiro da Navegação do Rio Paraguai, desde a Foz do Sepotuba até
o Rio São Lourenço.
Roteiro da Navegação do Rio Paraguai desde a Foz do São Lourenço até o Paraná.
Tabelas de Latitudes e Longitudes de Diversos Lugares da Província de Matto-Grosso, determinadas por Observações Astronômicas.
(wikipedia)
C O D A
“...pois os vedados términos quebranta e navegar meus longos mares ousas.”
(Luís de Camões)
Sítio eletrônico erigido por
O t a c í l i o
M e l g a ç o,
brasílico artista oriundo das Minas Gerais.
"Existem outras páginas construídas por melgacenses a incensar a rede mundial de computadores... Convido-os todos a visitá-las e a tomar abrangente conhecimento das demais e numinosas estórias e histórias - culturais, turísticas, etnográficas, religiosas etc - a respeito da vila portuguesa aqui estimada e emotivamente enfocada mas...
trato eu, por fim ou - quem sabe? - genesíaco, da metamorfose trindádica do que era
1 - prístina
m-e-lg-a-c-i-d-a-d-e (etérea, presentemente vetusta, insondável, mítica) em
2 - concreção
m-e-l-g-a-c-e-n-s-e
(a vila, o topus, encarnação marmórea e empedernimento fundamental, histórico, mátrio) para depois reinventar-se - maturada/avantgardeada, em terra brasilis, em
3 - m-e-l-g-a-c-i-a-n-
i-d-a-d-e (a ubiquidade metafísica, aportável no todo-lugar, transcendente e ad infinitum Alfa-Ômega).
Há em sítio eletrônico voltado a minhas obras musicais um texto magnífico de Pablo Suarez Paz - detentor de minha fortuna crítica - a respeito de etimologias melgacianas pós-ultramarinas;
de como a palavra MELGAÇO está no ventre da - tão rosiana - VEREDA (ou o contrário?). E assim, numa travessia paralela, num universo paralelo, também os convido para perpetuar tal saga já em levitativo tanto quanto abissal solo do
Grande Sertão pois este MELGAÇO POR MELGAÇO - continue a trilhá-lo! - é,
Àquele, uma iniciação: Eis! Ei-lo!: simultaneamente consagre, acione o elo
(em a estar, lá tome o norte de Música Instrumental Brasileira / Veredas Mortas)" (O.M.)
"Família é transação de olhos e retratos...
Cada criatura é no rascunho
até a hora da liberação
além do rio sem...memória.”
(João Guimarães Rosa)